Laércio Júlio da Silva
28/08/2009
"A idéia de achar graça na visão de animais selvagens coagidos a agir como desajeitados seres humanos, ou a excitação ao ver perigosas feras reduzidas a covardes retraídos por causa de um treinador com chicote em punho é primitiva e medieval. Tal visão de mundo advém do velho conceito de que somos superiores às outras espécies e que temos o direito de manter nosso domínio sobre elas. O primeiro auge desse conceito foi visto durante os massacres no circo romano e, desde então, tem sido mantido vivo através dos ensinamentos religiosos que insistem em colocar o gênero humano acima e apartado de todo o resto da criação" (Desmond Morris, zoólogo inglês autor do clássico livro O macaco nu, que fica aqui como sugestão de leitura sobre o tema no ano do segundo centenário de nascimento de Charles Darwin, 1809-1882).
A mortalidade de animais nos zoológicos de São Paulo e Goiânia tem chamado a atenção do Brasil para uma discussão permanentemente aberta no meio ambientalista: a prisão e escravização de animais em circos e zoológicos se fazem necessárias na atualidade?
Segundo uma definição clássica, a prisão de animais se justificaria pela função educativa das novas gerações, possibilidade de pesquisas científicas e a preservação de espécies ameaçadas de extinção.
No caso específico de circos, os animais são usados como exemplo da supremacia humana sobre as outras espécies vivas, demonstrando superioridade e destreza, travestidas de entretenimento e lazer à custa de feras acuadas e outros animais condicionados a se mostrarem ridículos perante o homem divinamente iluminado pela sua pretensa racionalidade. Não são poucas as denúncias de maus-tratos e abandono de animais.
Com algumas exceções, o espetáculo circense ensina a criança a rir da dignidade perdida dos animais enjaulados e acorrentados por seus captores. Nesse caso, a humanização dos bichos igualmente em meios de comunicação, como a TV, reflete claramente a falta de humanidade das pessoas, formando futuros adultos insensíveis à valorização da vida animal.
Felizmente, em 3 de junho deste ano, a Comissão de Educação da Câmara aprovou o Projeto de Lei 7291/2006, que proíbe qualquer tipo de animal em espetáculos de circo no Brasil. A proibição serve para circos nacionais e os internacionais que vierem se apresentar no País. O projeto dá ainda o questionável prazo de oito anos para que os circos se adaptem. O projeto ainda será votado na Comissão de Constituição e Justiça antes de seguir ao plenário da Câmara. Trata-se, mesmo assim, de um grande avanço.
Em se tratando de zoológicos, o paradigma é mais complexo. Hoje não há mais necessidade de se arrancar os animais do habitat e colocá-los em um ambiente antagônico simplesmente para satisfazer a curiosidade humana, alimentando um rendoso comércio e o contrabando ilegal de animais silvestres. Basta ligar a televisão ou a internet para ver e pesquisar sobre um determinado animal. Além disso, os animais agem com naturalidade quando o ser humano é introduzido em seu habitat, desde que estes abdiquem da condição de maiores predadores da mãe Terra.
Assim fazendo, obedecendo obviamente a regras de segurança, crianças podem ser estimuladas a realmente aprender e respeitar o convívio com animais em seu próprio ambiente. Lamentavelmente, o desconhecimento tem feito vítimas nas mãos dos "bem intencionados" que, por ignorância, não sabem que a ingestão de doces e outras guloseimas industrializadas é extremamente prejudicial à saúde dos animais.
Ao final do dia, quando o público sai do Zoológico, os animais, entristecidos, permanecem aprisionados. Que crime cometeram? Recentemente, um grupo de quelônios foi devorado por algum predador solto no Zoológico de Goiânia. Os infelizes animais foram vítimas da sua própria condição de prisioneiros, indefesos e sem condição de fugir ou se esconder, constituíram presa fácil da cadeia alimentar.
O naturismo, por definição, "é um modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática da nudez social, que tem por intenção encorajar o autorrespeito, o respeito pelo próximo e o cuidado com o meio ambiente"(INF-FNI, 1974, Definição de Naturismo), se solidarizando com todos os movimentos de preservação e proteção da vida animal.
Laércio Júlio da Silva é diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo – Goiasnat
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