08/08/2009
Por Laércio Júlio da Silva
Sou tipicamente urbano, nasci na cidade caracterizada por uma selva de pedras dominada por concretos, arranha-céus e poluição endêmica. Minha família veio do campo acalentando o sonho também de muitas outras que fizeram esse trajeto na vida por vários motivos, entre eles, a possibilidade de oferecer estudo para os filhos e melhorar a renda, inebriadas pela esperança de morar na cidade grande.
Como o homem é um animal inconstante e inconformado por natureza, herdei o sonho de meus pais de voltar para a “roça”, daí vem o motivo maior de minha ligação com o ambientalismo. Todo esse intróito foi pelo motivo que a maioria da população tem uma história parecida com a minha, ou seja, todos nós temos o pezinho bem fincado na terra!
Meu sonho geneticamente carimbado sempre foi ter um pequeno pedaço de terra em que eu pudesse “plantar e colher com a mão a pimenta e o sal” como diz a poesia do finado compositor Zé Rodrix, imortalizado na voz de Elis Regina.
Evidentemente, a dura realidade derruba alguns sonhos e recria outros. Há nove anos mudei para minha casa que construí em uma pequena parte de um terreno de aproximadamente 600 metros quadrados desmatados. Para lá levei algumas mudas que eu mesmo semeei em minha antiga casa, rodeada de concreto, plantas que eu teimava em cultivar entre prédios com uma estrita visão de futuro. Doei muitas dessas mudas aos amigos, um deles extremamente agradecido, pois quando me encontra, eu tenho a cara do caju que ele colhe hoje em sua propriedade, a ponto de nunca se esquecer de mim e do meu “nobre gesto”.
O resultado prático depois desses anos é que há poucos dias colhi a última leva de mexericas ao mesmo tempo em que amadurecem as laranjas, logo em seguida estarei colhendo outras frutas do meu pequeno jardim do Éden: acerolas, romãs, abacates, goiabas, graviolas, entre outras maravilhas, esperam pelas minhas mãos ávidas por colhê-las e saboreá-las.
Há alguns anos administrei um complexo turístico e reserva ecológica particular. Numa clareira de aproximadamente dois mil metros quadrados, resolvi plantar frutas e verduras com o intuito de abastecer o hotel. Quando saí de lá, o hotel já era autossuficiente em seu café-da-manhã e frutas para as refeições. Incomodava-me muito o fato de fazendeiros da região que tinham muito mais terra pedir ou simplesmente invadir a propriedade para “catar” frutas e verduras que havíamos plantado. Será que esses latifundiários não teriam uma pequena parte de suas imensas propriedades para o plantio?
O que eu quero dizer nesse artigo, caro leitor, é que você pode mudar o mundo se quiser. A ambientalista Wangari Maathai, vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2004, lançou um projeto para que sejam plantadas 1 bilhão de árvores em todo o mundo como parte dos esforços de combate às mudanças climáticas e à pobreza. A queniana Maathai, que se transformou na primeira mulher africana e na primeira ativista do meio ambiente a receber um Nobel da Paz, pediu às populações do mundo todo que plantem árvores para enfrentar o aquecimento da Terra e que assumam um compromisso de longo prazo com a vida.
“Qualquer um consegue cavar um buraco, colocar uma árvore nesse buraco e aguá-la. E todos podem garantir que a árvore plantada sobreviva. Quando falava com as mulheres simples do campo – aqui no Quênia elas são as principais responsáveis pelo trabalho na agricultura – reclamavam que não tinham mais lenha porque não havia mais árvores. Aí pensei comigo: e se todos nós começarmos a plantar árvores? Resolvemos esse problema e melhoramos a qualidade do solo, combatendo a erosão, e melhoramos também o ar que respiramos. Até hoje, já conseguimos plantar 30 milhões de árvores”, afirmou a Prêmio Nobel durante um encontro da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre as mudanças climáticas. A reunião aconteceu em novembro de 2006 em Nairóbi, capital do Quênia.
Um dia desses, ao plantar uma muda de jatobá, um cidadão se aproximou e me disse: “Por que você está plantando essa árvore? Quando ela crescer você não estará mais aqui...” Sinceramente não havia pensado sob esse prisma e a afirmação me fez refletir sobre o egocentrismo dos homens e o quanto as pessoas são imediatistas. Não dê ouvidos para a turma do “contra”; todas as alegações não importam para quem pensa no futuro, portanto, seja lembrado: plante em sua casa ou apartamento, se não tiver lugar, presenteie os amigos, semeie com foco na humanidade, sem egoísmos e restrições. Reserve para algum lugar em que a natureza possa fazer crescer e saciar a fome ou o desejo de alguém; você seguramente estará ajudando a sobrevivência do planeta.
O naturismo predispõe a autoconfiança e a quebra de paradigmas que induzem a pessoa ao crescimento individual em contato com a natureza, visando a preservação do meio ambiente.
Laércio Júlio da Silva é diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo - Goiasnat (www.goiasnat.com.br)
Passando dos limites?
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