Por Laércio Júlio da Silva
Publicado no Jornal "Diário da Manhã"
A beleza que ameaça a juventude
01/08/2009
Se o nosso querido poetinha Vinicius de Moraes estivesse vivo, pensaria várias vezes em afirmar a sua mais polêmica frase: “As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental.” Ele que foi o menestrel do pensamento idílico, constataria que a beleza estética anda sendo deturpada a ponto de se tornar uma paranóia que não leva em conta a saúde de quem a persegue. Para algumas pessoas, ultimamente a beleza tem se tornado o espelho de Narciso, que, segundo Mitologia Grega, teria vida longa desde que não contemplasse a própria figura. Muita gente tem perdido a vontade de viver pelo fato de não se aceitar em frente a um espelho.
Recentemente foi notícia de destaque na televisão o relatório divulgado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica constatando que adolescentes entre 14 e 18 anos representam 13% dos pacientes que fazem algum tipo de procedimento estético. Em todo o Brasil, entre Setembro de 2007 e Agosto de 2008, cem mil jovens nessa faixa etária recorreram à cirurgia plástica. O mais escandaloso é que as cirurgias preferidas pelos jovens são de nariz, redução de mamas, próteses de silicone, lipoaspiração e correção no tamanho das orelhas, partes do corpo ainda em desenvolvimento na adolescência, caracterizado pelas mudanças naturais do crescimento (fonte: portal G1). Procedimento que futuramente em alguns casos faz a pessoa voltar à mesa de operações para novas “correções”, enchendo os bolsos da indústria de cirurgias plásticas que se formou neste País. Cirurgias que chegaram à marca de 1.200 por dia!
Lamentavelmente, a sociedade de consumo tem colocado na prateleira o produto beleza ao alcance de todos, com a possibilidade de se pagar em 36 meses com ou sem juros, transformando o desejo em algo aparentemente acessível como se fosse à compra de um carro novo com a possibilidade de acrescer vários “acessórios”. Somos impelidos a consumir incansavelmente para girar a roda da produção sem fim e isso atinge agora o corpo humano e sua aparência física. Numa época em que a ditadura da beleza é imposta na moda, em revistas e na televisão, a cirurgia plástica surge como alternativa mágica para corrigir o que a juventude acha que a natureza não se fez perfeita. Alguns de origem pequeno burguesa abrem mão da tradicional festa de debutante ou da sonhada viagem ao exterior para saciar o ego e deixar de ser motivo de piada e “bullying” na escola ou entre os colegas. Muitos pais apoiam os filhos nesta empreitada conscientemente, outros apenas o fazem para não ter mais um problema dentro de casa, fugindo mais uma vez da educação formal juvenil, tão em falta na formação do caráter do adolescente hoje em dia.
Generalizando, o mais grave é que, segundo José Yoshikazu Tariki, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, nos processos abertos em decorrência de cirurgias plásticas, 94% dos médicos demandados não possuíam especialização na área. A fome pela beleza perfeita entontece a sanidade da vítima ao ponto de o paciente cair em uma verdadeira arapuca, sem ao menos averiguar a idoneidade do dito especialista. Apenas seis dos 289 médicos processados no Conselho Regional de Medicina de São Paulo tinham título de especialista em cirurgia plástica (fonte: site da SBCP).
O fato é que não podemos deixar crescer uma geração apegada a valores fúteis vitimada por uma paranóia que não é inerente à da vontade de viver do jovem.
A verdade é que precisamos colaborar para um novo modo de vida que privilegie a beleza interior dando asas ao conhecimento e à alegria de viver como viemos ao mundo, universo esse dominado por paradigmas estéticos decorrentes da falsa consciência que a maioria tem de seu próprio corpo.
A prática do naturismo propaga o autoconhecimento necessário para a paz interior, advoga que o autorrespeito é fundamental para a busca da autoaceitação.
Laércio Júlio da Silva é diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo, o Goiasnat.
www.goiasnat.com.br
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