sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

PELADISTAS DE PLANTÃO, ASSIM FOI MINHA CHEGADA NA EUROPA!

...Após tamanha decepção com esse meio naturista; resolvi sair em campo e continuar defendendo meu direito de ficar pelada sim, porque isso é um ato natural e não para me diferenciar de outras pessoas que se escondem atrás dos pudores; percebi que nossos pudores não estão escondidos atrás das roupas, mas atrás de pensamentos medíocres, e críticas prepotentes e arrogantes; também cansei de esperar que políticos aprovem alguma lei que me dê o direito de ser natural...


Resolvi tirar umas férias e pensei: preciso limpar minha mente e continuar defendendo o que acredito. Para onde poderia ir?!... Praias paradisíacas?... Não!, me lembrava o povo naturista. Preciso de algo mais... cultural, histórico e livre....uauauaua Holanda, porque não???...agora lá é inverno, hum... serei obrigada a ficar vestida por causa do frio, mas tudo bem, Amsterdam é uma cidade livre, artística, cultural, ai mal posso esperar.


Peguei um lindo avião rumo ao que para mim, naquele momento representava a liberdade... teria que ficar vestida nos próximos meses, mas a sensação era a de que estava ficando desnuda, livre. Cheguei a pleno inverno, milhões de roupas eram necessárias para minha sobrevivência... me apaixonei pela cidade, pelas pessoas, e percebi que estava em outro mundo; um mundo onde as pessoas respeitam-se mais e fazem menos apologia; uma cidade onde a maconha é liberada, ALGO QUE PARA NÓS BRASILEIROS É UM HORROR, MAS O FATO DE A MACONHA SER LIBERADA OU NÃO, NÃO VEM AO CASO, RESSALTO AQUI A MATURIDADE DAS PESSOAS QUE SÃO TRATADAS COMO ADULTAS PELO ESTADO; AH, o sexo nos parques é permitido, desde que longe das crianças, OUTRO PONTO QUE PARA NÓS BRASILEIROS PODE SER MORALMENTE DUVIDOSO, MAS ACONTECE AQUI NA EUROPA; o casamento gay é admitido e respeitado; o cigarro é proibido dentro dos bares, por questão de saúde e não porque alguns acham que seja um péssimo hábito e queiram lutar contra o fumo.... com toda essa liberdade e não vejo tantas agressões na rua. Aqui as pessoas são livres, mas educadas a serem responsáveis pelas conseqüências de seus atos.


Nossa, sinto-me tão bem, tão livre apesar de estar vestida igual a uma cebola, com várias camadas de roupa; se eu tivesse que fazer strip-tease levaria meia hora e ainda estaria de calcinha.


Resolvi ficar mais do que o que havia programado, para isso precisaria trabalhar e comecei a procurar o que fazer... Conversando aqui, conversando ali... me disseram que poderia trabalhar como modelo; consegui de uma amiga uma lista de artistas e liguei me oferecendo como modelo...


-Alô, sou Ariane, sou brasileira, e trabalho como modelo, como atriz e ...estou precisando trabalhar...


-Oh, yes, preciso de modelo, algum problema em posar pelada? Perguntou o artista.


-Pensei: pelada!!! Adooooro ficar!!! Só pensei... disse: sim, nenhum problema... Marcamos appointment... como diz aqui...peguei o endereço e lá fui eu..


No caminho de trem até o local combinado fui pensando: que ironia do destino, depois de tanta decepção tirando a roupa no Brasil, o meu primeiro emprego na Europa será tirar a roupa, ...oh my God, e ainda por cima sozinha eu e um homem,... Não que eu tivesse medo de homem, já sou bem crescidinha para isso... Bom agora não dá pra recuar vamos em frente... Encontrei o tal artista e fomos para o seu atelier...


Minha experiência no teatro já havia acontecido e eu tinha a personagem para me proteger, para me vestir, então de certa forma eu estava protegida por ela. Já como pessoa, como cidadã, até então havia ficado pelada somente para tomar banho e nos encontros de nudismo, quando conversava sobre trivialidades e às vezes ouvia banalidades... Ali, no atelier era diferente... A única semelhança era a de estar pelada... É! Estava eu pelada e na minha frente um homem que olhava pra mim o tempo todo; mas havia algo de diferente em seu olhar; ele me olhava nua, NÃO para criticar minhas formas ou fazer alguma masturbação mental; ele me olhava, pois queria reproduzir na tela exatamente como eu era, e ao contrário do desconforto que sentia com muitos olhares nos encontros de nudismo; ali me sentia a própria (Venus de... e ele meu Da Vinci) e o mais importante, me senti respeitada. Terminada a sessão, me pagou, me deixou no trem, e disse um muito obrigado!


Voltei para minha casa e no caminho de volta fui fazendo um balanço de minhas emoções daquele dia e das sentidas nos encontros anteriores no nudismo; e realmente descobri que estava no grupo errado... Sou peladista!