sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A prática religiosa e as concepções naturistas

Por Laércio Júlio da Silva



13/11/2009
Sem sombra de dúvida, todas as religiões procuram a seu modo reprimir a sexualidade patrocinando uma doentia vergonha do corpo em sua origem. A nudez é tratada e propositalmente confundida com o ato sexual, como se uma coisa tivesse a ver com a outra. Mas é muito interessante observar que a nudez está para a religião relacionada ao proibido, como para o mais sagrado. Basta observar a arte sacra recheada de anjos e querubins na pureza de sua mais plena e santificada nudez.

João Paulo II, quando ainda bispo de Cracóvia, escreveu sobre a matéria (Karol Wojtyla – “Love and Responsability” – tradução de H.T.Willets – Farrar, Strauss & Giroux, N.Y. 1981, pag. 176 e segs.): “O decoro sexual não pode, de nenhuma forma, ser associado ao uso de vestuário, nem a vergonha com a ausência de roupa e a total ou parcial nudez…A nudez como tal não deve ser equiparada ao descaramento físico. A ausência de decoro existe apenas quando a nudez desempenha um papel negativo no que respeita ao valor da pessoa, quando o seu propósito é o de resultar em apetite sexual, no qual a pessoa é colocada na posição de objeto de prazer (p. 190). O corpo humano não é em si mesmo vergonhoso, nem pelas mesmas razões o são as reações sensuais e a sensualidade humana em geral. A ausência de vergonha (assim como a vergonha e o decoro) é uma função do íntimo de uma pessoa (p. 191).” E depois de referir que a vergonha de ser visto nu é um falso decoro, influencia de sistemas perversos, tais como o jansenismo e o puritanismo – não o catolicismo, Karol Wojtyla escreve: “Existe em certo relativismo na definição do que seja a indecência. Este relativismo pode existir devido às diferenças de contribuição peculiares a certas pessoas – uma maior ou menor excitabilidade sensual, um menor grau de cultura moral ou uma visão diferente do mundo. Este fato pode ser igualmente devido a diferenças nas condições externas, no clima por exemplo, e também nos costumes predominantes, nos hábitos sociais, etc…(p. 186). A roupa é sempre uma questão social, em função dos costumes da sociedade… (p. 190). Nesta matéria não existe nenhuma exata similaridade no comportamento de pessoas concretas, mesmo se elas vivem na mesma época e na mesma sociedade (p. 189).” Noutro escrito (citação em Cws 1.3, p. 811) diz o Papa: “As nossas reflexões precedentes não põem em causa um direito…No decorrer dos anos – e sobretudo na grande era da arte grega clássica – houve obras de arte em que o tema era o corpo humano na sua nudez, cuja contemplação nos permite absorver, num certo sentido, toda a verdade humana em sua dignidade e beleza – incluindo a sensual – sua masculinidade e feminilidade”(fonte: Jovens pelo Naturismo).

Os evangélicos são conhecidos por seus costumes religiosos rígidos. Os fiéis dessas religiões, especialmente as pentecostais, sempre tiveram horror a tudo que estivesse ligado a sensualidade, incluindo de tabela a nudez pecadora. Esse dogma gerou costumes ligados à vestimenta dos fiéis, que deveriam cobrir a maior parte do corpo possível, em especial, tratando-se do corpo feminino. Felizmente, existe hoje um movimento crescente de evangélicos naturistas podendo ser tranquilamente acessado pela internet( www.naturistascristaos.org ) que inclui pastores e outros líderes religiosos, que por motivos óbvios condenados pelo dogma, não podem revelar abertamente sua opção.

O naturismo e a prática religiosa nunca foram incompatíveis, ao contrário do que muitos pensam e pregam. Fiéis dos mais variados credos encontram no naturismo o caminho para a purificação espiritual e a tão desejada e almejada valorização da criação divina.

A proposta do naturismo é ampla e não cabe qualquer tipo de preconceito, entre eles o de credo religioso. Entre os naturistas, convivem católicos, espíritas, evangélicos, budistas, afro-religiosos e outras matizes religiosas e filosóficas em perfeita harmonia com a natureza e a cultura da paz.

Laércio Júlio da Silva é diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo, o Goiasnat