A informatização do mundo coloca um monte de informação no alcance de todos. Bom quando procuramos, mas quando somos os procurados - o que poder significar, ter "seu nome na lista"?
Uns anos atras, um paulista rico, dono de uma empresa de perfumes, foi brutalmente assassinado depois de ter saído de um boate gay com três jovens da periferia. O boate fez questão de registrar todos que entraram, e ainda mais todos que saíram juntos, exatamente para coibir qualquer tipo de assalto. Os frequentadores souberam, e aceitaram trocar privacidade para segurança - afinal, a lista ficava nas mãos do boate, que já sabia quem era seus frequentadores.
O dono do boate, ansioso para ajudar desvendar o assassinato do freguês, aguadou a polícia com o relatório da sistema já pronto, mostrando com quem o finado tinha deixado o estabelecimento pela última vez. Mas a policia, na sua maneira, não queria o relatório, nem o movimento daquele noite. Queria o banco de dados inteiro, e levou.
Afinal, quem sabe para que seria útil no futuro, a "lista dos gays", os grão-finos e nem tão finos assim? Para desvendar outro crime. Para elevar um crime (e quem o resolveria) ao estrelato, o "lista dos gays" poderia fazer a diferença. Para encontrar alguém para desempenhar o papel de bandido, quando e o tempo urge e o delegado saindo de mocinho poder garantir aquela vaga cobiçada. Num país onde durante décadas colunistas sociais ganhavam menos para publicar, do que para não publicar, quem sabe o valor de uma lista destas?
Durante a Grande Depressão, o partido comunista nos EUA era mais um da fauna política exótica. Depois da segunda guerra, quando J. Edgar Hoover precisava uma ameaça para justificar o orçamento anual da FBI, ele escolheu o partido comunista como sua garantia financeira. E ter sua nome na lista, de repente tinha importância.
Caminhos inversos
Mas o que isso tem a ver com peladistas?
Vimos nestes meses duas mudanças em sentidos contrários. No editorial desta més do periódico brasileiro de naturismo, Jornal Olho Nu o editor Pedro Ribeiro reclama que recebe cada vez mais pedidos de pessoas - até dirigentes naturistas - que querem seus nomes retirados dos números antigos do jornal.
Pessoas que não querem seus nomes na lista.
Remando contra o maré, a Federação Brasileira de Naturismo quer que todos as associações afiliadas, gravam os nomes dos seus associados numa lista computorizada, e os mandar para a FBrN, para que este pode ... bem, a vantagem para o associado nunca foi explicada.
Comprei um passaporte naturista dois anos atrás, quando pouco sabia da FBrN, e imaginava que esta faria um esforço mínimo em apoio do seu presidente, então preso sob acusações falsas. Imaginava também que o passaporte servia para alguma coisa, que as associações e empresas credenciados pelo FBrN tinha uma obrigação de honrar o credencial da INF.
Levei minha esposa e filha na minha primeira visita a um resort naturista (elas aguentam muito). Para meu alívio, minha esposa já conhecia a esposa de Arnaldo do Mirante, e sua neta. Quando comprei meu passaporte não pretendia fazer um para minha filha, pois as vantagens para ela eram poucas, e houve o perigo de que um dia poderia ser uma problema ter sua nome na lista. Quando vi a maneira em que Sampanat fazia sua lista, de caneta num caderno, minha hesitação sumiu. Aquela não seria eterna: eu poderia fazer sabendo que minha filha poderia desfazer, e seria desfeito mesmo.
Mas enquanto até dirigente de grupo não quer seu nome na lista, porque impor em cada naturista que se associa formalmente, que num computador seu nome vai constar na lista, e esta lista vai para quem sabe onde? O uso esperado, não se sabe; o uso inesperado, nem se pode imaginar.
Como os outras lidam com isso
Não é "parte da vida, não tem o que fazer". Para motivos de privacidade, o equivalente novo-iorquino do Bilhete Único de metrô e ônibus não grava os movimentos dos usuários em qualquer sistema central. Somente o próprio cartão tem estes registros.
Aquele cartão no envelope dentro da contra-capa do livro da biblioteca, onde você poderia ver quem leu o volume antes, não existe mais nos EUA. Não porque foi trocado por computadores, mas por que foi trocado por uma sistema que não mantenha nomes numa lista de quem leu qual livro, explicitamente para evitar que alguma Autoridade poderia exigir a lista.
Nuvem no horizonte
Este semana, em São Paulo, uma jovem de 16 anos foi proibida de mostra o seio no palco. Peladistas Unidos recebeu dois pedidos de socorro nos últimos meses, de naturistas que estavam em apuros porque alguém achou que o corpo humano faz mal a menores.
Com este mentalidade, uma lista de naturistas poderia ter muitos utilidades. Vamos por que há suspeita de que uma criança que visitou uma área naturista sofreu abuso - e certeza de que três que visitaram o resort comum no outro lado da rua sofreram. Bem, o comum, faz o que, e a mídia não se importa. Mas na área naturista, há estes passaportes, e uma lista de quem estava ... uma lista de quem já estava ... uma lista de quem mora na região ... está cheio de lista, cheio de pistas. E enquanto há suspeito que uma criança sofreu, não seria bom verificar todas? Quais destas famílias tem filhos menores?
Há muitos bons motivos de não querer seu nome na lista, e os motivos só tendem a aumentar. A nuvem qualquer um poder ver, de onde vem o vento, qualquer um pode sentir. A tempestade vem na direção dos naturistas, e a Federação que deveria esta tomando providências ... esta colocando seu nome na lista.
Para facilitar.