Pedro Kirilos/Agência O Globo |
Num mundo que não se cansa de usar o corpo feminino como atrativo para o consumo, as mulheres do Femen e as mães de Valência tentam inverter o jogo: o objeto de fantasias se torna assim um instrumento de mobilização.
É que as imagens da miséria e da infelicidade hoje parecem incapazes de despertar consciências para os problemas da sociedade global. A exibição do corpo, tão banalizada em outros contextos, aparece como recurso para o ativismo.
Em vez da violência, comum nos movimentos de revolta, surge o sexo. Resta saber quais suas chances na trivialização dos tempos.
Tanto o corpo masculino, quanto o maior evento que use o nudez como forma de protesto, o World Naked Bike Ride, não mereciam menção no editorial.
O uso do corpo nu em protestos gera um certo protesto do parte dos naturistas brasileiros, na linha de "isso não é naturismo!" É? Dr. Cec Cinder, no seu monumental (678 pp) "The Nudist Idea", lista cinco pontos que definem naturismo, na pp. 461-462. Resumindo, para ser nudismo a nudez deve ser:
- uma atividade em grupo;
- de ambos os sexos;
- completa, sem "coisinhas" cobrindo a genitália;
- social, não principalmente religioso ou político;
- consciente, "deveria haver um entendimento entre os participantes, e este entendimento deve ser compartilhado ainda que implicitamente, que estão nus como uma forma de protesto social." Ele afirma ainda que neste sentido limitada o nudismo é politico, e que índios na Amazônia não deve ser reconhecidos como nudistas.
Pelo análise de Dr. Cinder, nem os protestos de Femen nem o WNBR devem ser considerados nudismo; são atividades políticos, que encontram no nu uma chamativa. Quando o nu é usado para avançar qualquer causa além do próprio nudismo, deixe de ser nudismo.
E da perspectiva peladista? O peladismo, além de pluralista, é prático. Quer dizer, é muito mais interessado na descriminalização do ato de andar pelado, do que em analisar como a "filosofia naturista" encara o ato de andar pelado. Em vez de criticar o uso do nu em protestos como uma invasão da reserva de mercado intelectual, a tendência é aplaudir qualquer atividade que normaliza a nudez público. A trivialização ou banalização da nudez em espaços movimentados, serve para preservar o direito de pular pelada numa cachoeira isolada sem medo de ir preso por isso.
Uma ideia é vitorioso quando sua defesa vira supérflua. Os grupos que defenderam a abolição de escravidão ou o voto para mulheres saíram da vida para entrar na história. Procuramos nossa própria obsolescência, e bem-vindo seja qualquer atividade que colabore.