domingo, 27 de abril de 2014

Invasão de Tambaba

Temos o prazer de dar boas-vindas ao naturista Nelci-Rones Pereira de Sousa como autor e não como o assunto da matéria.

A diferença entre ser autor e o assunto é importante, como ilustra este texto inicial. Participar do naturismo é uma coisa, ser objeto de curiosidade de turistas é outra. O convívio social é fundamental ao naturismo, e colocar naturistas como animais no zoológico ou como freaks de carnaval do interior, não combina com os princípios do naturismo, nem com a boa educação. Nem seja um bom pressagio para o futuro de naturismo no Brasil.

Grupo AndaBrasil na praia de Tambaba
Pra justificar a invasão de mais de cem pessoas vestidas dentro da área naturista de Tambaba, em uma travessia que fazia parte de uma “caminhada ecológica”, a líder do grupo, esposa de um dos comerciantes da localidade, deu uma entrevista à uma TV local, onde cunhou a frase: “ O naturismo vai além da nudez”.

Esta frase vem sendo usada com muita frequência em Tambaba, e até pelo Brasil afora,  para justificar um monte de práticas não naturistas por diversos tipos de pessoas que se autodenominam naturistas, mas na realidade exercem atividades muito diferentes daquelas vinculadas ao naturismo.

Ora, que eu saiba, a expressão “além”, tem sentido de “depois”. Isto leva à uma conclusão simples: sem a nudez não existe naturismo, como, aliás, está implícito no próprio enunciado que define a filosofia. Por outro lado “além da nudez” é uma expressão que quer dizer que o naturismo não é só a nudez. Implica outros conceitos, como auto respeito, respeito ao próximo e respeito à natureza. Apesar de não ser “só” a nudez, quando praticada em grupo,  continua sendo o fundamento principal.

A julgar pela estupefação das pessoas que visitavam a praia no momento dessa travessia, a atitude pecou em todos os quesitos que definem o naturismo. Inicialmente, ao não estarem despidas para essa caminhada, demonstraram que não possuem auto respeito pois necessitaram de subterfúgios, suas próprias roupas, para se sentirem confortáveis. Depois, ao se apresentarem vestidos na presença de várias pessoas nuas, provocando o absoluto desconforto e constrangimento destas, desrespeitaram todas elas, trazendo o total descumprimento do quesito “respeito às pessoas”. Por último, não me consta que “caminhadas ecológicas” sejam eventos de “respeito à natureza”. Qualquer pessoa sabe que essas caminhadas têm como objetivo apenas apreciar a natureza, trazendo benefícios a si próprio e não à natureza, podendo, às mais das vezes, ao contrário, trazer prejuízos de diversos graus e gravidades.

Assim sendo, onde existe a presença de naturismo nessa atitude? É muito claro que esta é uma atividade que está muita “aquém” do naturismo. Portanto, está provado que a expressão usada é altamente deturpada e praticada no seu total antagonismo.

Mas, o que mais me preocupa, e traz a minha total indignação, é o apoio que esses eventos recebem das diversas entidades e associações que representam o interesse dos naturistas no País, vislumbrando assim um quadro de total alteração nos objetivos dessas entidades. Pior é que essas associações vêm se fortalecendo com a participação em seus quadros de pessoas que não têm a menor característica da filosofia, demonstrando uma alta deformação dos propósitos iniciais firmados por quem os introduziu.

Sinceramente, estou com elevadíssimas cismas sobre o FUTURO DO NATURISMO BRASILEIRO.

Nelci-Rones Pereira de Sousa
Naturista.