quarta-feira, 17 de abril de 2013

Memórias de Ilha Grande

No site do Jornal Olho Nu, lemos hoje que:

Neste final de semana passado a famosa e bela Ilha Grande, no litoral sul do estado do Rio de Janeiro, recebeu um grande grupo de naturistas paulistas e cariocas para fazer turismo. Embora não haja nenhum local oficial na região onde se possa ficar nu, os visitantes descobriram locais desertos e tranquilos para a prática de nosso estilo de vida.

Pode ser. Mas não foi sempre assim. É bom relembrar o local mais oficial de Ilha Grande, seu estabelecimento mais famoso, ou pelo menos mais notório: o Instituto Penal Cândido Mendes, ou Colônia Penal Dois Rio.

Um dos detentos mais famosos foi Graciliano Ramos, e o lugar é descrito no seu "Memórias de Cárcere", que tirei do estante ao ver a nota em Jornal Olho Nu, lembrando um trecho do livro, mas que parece anterior ao transferência para Ilha Grande:

Graciliano Ramos
Numa dessas passagens matinais deu-se coisa burlesca. Diversas pessoas no Pavilhão, sem querer, entregavam-se ao nudismo. Saíam do banheiro, iam secar preguiçando nos cubículos, andando na Praça Vermelha, e esqueciam-se de vestir-se. Estava assim Newton Freitas, oferecendo a um magote ocioso conversa loquaz e gargalhadas imensas, quando se entreabriu a cortina de lona e a figura de Eneida apareceu. Com impudência tranqüila, o homem deu um passo e cumprimentou.

- Você está decente para falar com senhoras, murmurei tocando-lhe no ombro.

– Puxa! Com os diabos!

Recuou, quis envolver-se na toalhinha de rosto, mudá-la em tanga, acocorou-se rapidamente por detrás dos companheiros, morta a alegria num instante, encabulado em excesso.

Vol 1, pp 210-211

Umas das "senhoras" ele identifica na mesma página como Olga Prestes. Fala bastante do Barão de Itararé, também preso pelo polícia de Vargas. Uns anos antes, Itararé tinha impresso no seu jornal em fascículos a história de João Cândido, herói da Revolta da Chibata, e em seguida foi sequestrado e espancado por oficiais da marinha. Voltou à redação e afixou uma placa na sua porta: "Entre sem bater".

Impossível não mencionar a presença do Barão de Itararé na Ilha Grande, comentando uma visita pelo Marquês de Abricó!

Outro preso em Ilha Grande foi Fernando Gabeira, autor da "Lei Gabeira" que legalizaria naturismo no Brasil. O projeto de lei afundou com a prisão do então presidente da FBrN, Dr. André Herdy, sob acusações falsas. Vale lembrar também a prisão do ex-presidente de Sonata, Nelci Rones, outra prisão sem evidência, mas que serviu como pretexto para diminuir em dois terços a extensão da área naturista da praia de Tambaba.

Vimos então que na Ilha Grande naturismo não era raro no presídio - e que no Brasil, naturistas não são raros nos presídios. E falamos aqui somente dos inocentes. Imagine quantos terão quando os culpados começar cumprir regime em que o "banho de sol" é somente uma hora por dia!