"Ver o sol nascer quadrado" não é de tudo ruim, quando se sabia que existia uma boa chance de não chegar a ver a sol nascer de maneira nenhuma. E parece que isso é a situação em que Nelci se encontra.
Nelci Júnior pede a divulgação da carta, dizendo que "Tudo que fizermos é válido, a situação chegou ao máximo do tolerável."
Há motivos sérios de preocupação. A transferência do Nelci-Rones para uma cela super-lotada - há 27 na cela, ouvimos - é talvez um sinal que nos meios oficiais, alguém percebeu que faltando evidências que poder sustentar uma condenação, uma maneira de evitar que o processo que pode complicar a polícia e o MP, é evitar o processo, pelo falecimento do réu.
Mas também os presos, ao contrário da polícia, MP, ou jornalistas, não tem fama ou audiência a ganhar impondo culpa no Rones. Fritz Louderback estava preso no RS numa ala reservado onde estavam presos muitos ex-policiais, e eles reconhecerem de imediato que sua prisão era uma farsa. No famoso caso da Escola Base - citado de novo pelo Lula poucos dias antes de deixar a presidência - posso dizer também que os presos foram muito mais abertos aos fatos do que os jornalistas, que só queriam saber de algo que sugeria culpa. Mas houve outros casos - o do Geovan Joaquim da Silva vem imediatamente a mente - em que baseado nas notícias falsas do TV, acusados sofreram agressão de todos os tipos na cadeia.
A transferência repentina do Rones, quando até a promotora tinha recomendada que ele fosse mantido no Central da Polícia para sua própria segurança, é uma medida oficial que coloca em risco a segurança física de Rones, e pode ser acompanhado por outras medidas, não-oficiais mais partindo das mesmas repartições, com o mesmo fim.
A
Corregedoria Geral da Justiça da Paraíba
Corregedoria Geral do Ministério Público da Paraíba
Secretaria de Segurança Pública da Paraíba
Comando da Polícia Militar da Paraíba
Grande Oriente do Brasil – Paraíba
Loja Maçônica Arlindo Correia
Centro de Defesa dos Direitos Humanos
Órgãos de Imprensa da Paraíba
Aos cuidados dos responsáveis pelos órgão supracitados
Senhores,
Meu nome é Nelci Rones de Sousa Júnior, 27 anos, bancário, casado, filho de Nelci Rones Pereira de Sousa, 55 anos, estudante, agricultor, que encontra-se encarcerado na Penitenciária Modelo Desembargador Flósculo da Nóbrega (Presídio do Roger) desde o dia 20 de Janeiro de 2011, após ficar preso na Central de Polícia de João Pessoa desde 14 de Dezembro de 2010.
Venho através desta esclarecer alguns fatos e solicitar a ajuda dos senhores no que diz respeito a integridade física, moral e psicológica do meu pai, pois, apesar do grande empenho dos administradores, diretores e agentes dos presídios do estado em manter a ordem e garantir a integridade dos apenados, é impossível manter o controle total sobre os mesmos, tornando a estada temporária do meu pai com sério risco de morte.
Dos fatos:
Meu pai foi preso dia 14 de Dezembro de 2010 através de um decreto de prisão temporária expedido pelo fórum de Caaporã, acusado do crime de pedofilia, após investigação de cinco meses, onde encontraram fotos de crianças e adolescentes nuas na praia de Tambaba e em sua residência.
Acontece que meu pai é um reconhecido naturista há mais de 20 anos, utiliza e defende sua filosofia de vida e as fotos encontradas, em sua maioria, são de nós, filhos e família, desde que éramos crianças. Tenho duas irmãs, uma de 29 outra de 17 anos que estão, também, na maioria das fotos. As demais fotos são de famílias que frequentavam o naturismo e a residência do meu pai. Não existem fotos de pornografia ou sexo explícito, como dito da acusação, mas sim fotos de nudez, sem maldade ou malícia, como prega a filosofia naturista.
Em cinco meses (agora seis) de investigação não foram encontrados quaisquer vestígios de comercialização ou divulgação das fotos pela rede mundial de computadores (Internet). A não ser há dez anos atrás quando meu pai era presidente da Sociedade Naturista de Tambaba, e alimentava o site da praia, www.tambaba.com.br, voltado inteiramente a filosofia naturista, como diversos sítios encontrados na Internet no Brasil e no mundo, com a devida autorização dos fotografados. Desde que saiu da presidência do órgão, retirou as fotos e o site do ar.
Vale ressaltar que no inquérito foram ouvidas diversas pessoas e que somente uma testemunha ouvida, uma empregada doméstica que trabalhou com meu pai há 5 anos atrás e que se desentendeu com ele na época, motivo pelo qual foi demitida, acusa meu pai de atentado ao pudor a adolescentes. Acusação veementemente negada pelas supostas “vítimas” em depoimentos igualmente constantes no inquérito. “Vítimas” essas que hoje são maiores de idade, não detém de nenhum trauma psicológico, mantém suas vidas normalmente, algumas casadas e com filhos, afirmam que meu pai sempre as respeitou e nunca tentou qualquer ato libidinoso, além de nunca prestarem queixa ou denunciarem meu pai, mantendo amizade até hoje.
Bom, mas este contraponto cabe a defesa no momento oportuno.
O motivo real desta carta é pedir, como filho, cidadão idôneo, formador de opinião e que acredita na justiça e nos direitos humanos, garantia da integridade física do meu pai. Tenho medo do que possa acontecer ou ter acontecido com ele desde que foi transferido para o Roger, pois, como dito pela Dra. Cassiana Mendes, promotora de Caaporã, a mim e a meu advogado: “é melhor seu pai ficar na Central de Polícia em cela separada, pois no presídio os presos têm suas lei próprias” e esse tipo de crime, mesmo sem comprovação ou julgamento é reprimido de forma brutal pelos apenados.
Quanto a transferência do meu pai: foi solicitada pelo(a) Juiz(a) da comarca de Caaporã, através de ofício entregue à Central de Polícia no dia 20 de Janeiro de 2011. Não conheço claramente as leis que regem este tipo de prisão, mas não entendi o motivo da transferência, pois meu pai estava encarcerado em cela separada, como solicitado pela promotora, e por lá ficou durante 37 dias, aguardando o desenrolar do processo, sem prejudicar ninguém, tendo como única despesa a alimentação, dada três vezes ao dia (que me proponho a pagar, se for o caso). E, nas vezes em que fui visitá-lo, percebi que encontravam-se várias celas vazias, o que dá pra entender que não há superlotação, ao contrário do presídio. Sei que a carceragem da Central de Polícia é para presos provisórios, mas não é este o caso do meu pai? A cela não era o melhor lugar para se viver, mas pelo menos tínhamos assegurada a integridade física dele e éramos muito bem recebidos pelos delegados, agentes e carcereiros.
Recebam por favor o meu apelo. Não sei se esta carta vai ajudar, mas peço que me entendam como um filho que não quer ver seu genitor, a pessoa que o criou com todo o amor e ensinou tudo sobre honestidade e respeito ao próximo, vítima mortal da injustiça que estão fazendo.
Agradeço desde já a atenção dispensada.
João Pessoa, 24 de Janeiro de 2011.
Nelci Rones de Sousa Júnior