terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A união e a força

A FBrN ganhou seu Atestado de Inutilidade Pública quando se bateu em retirada no caso de Nelci Rones em Tambaba. A incapacidade de defender um naturista preso basicamente por ser naturista, se junta à incapacidade gerencial demonstrada no Congresso da INF na mesma Tambaba; e à censura do Jornal Olho Nu no caso Colina dos Ventos.

Para nem falar de como no caso Colina do Sol a FBrN abandonou quatro naturista inclusive até seu presidente, Dr. André Herdy, e depois ainda abraçou efusivamente a corja da Colina de quem partiu as falsas acusações.

Encontrei vários brasileiros, pessoas boas, que já participaram de naturismo organizado -- e não participam mais. Tantos foram os dissabores que aguentaram, que simplesmente se retiraram do meio. Eles se fizerem a pergunta clássica - "Estou melhor com ela ou sem ela?" e a resposta era, sem.

O caso Nelci Rones, com seus reflexos imediatos no banimento de naturismo familiar de Tambaba, foi para muitos a gota d'agua. Já passou da hora, dizem, para uma Associação que defende os naturistas. Que os representa, mas principalmente, os defende.

Contra isso, há gente pregando "a união", e também "a continuidade". Hoje olhamos o primeiro assunto, unidade. Depois, a continuidade, e a questão de interesses comerciais, e da defesa possível.

A emblema de autoridade dos pretores romanos era uma fasces, como carregado pelo jovem naturista ao lado. Os vários paus amarrados mostram que um sozinho é facilmente quebrado, mas unidos são fortes. O machado no meio simboliza a força.

É um símbolo de Justiça largamente usado pelo mundo; na estátua de Lincoln no Memorial em Washington, os braços da cadeira em que o grande homem está sentado, são lavrados com foices.

Mas também era o símbolo, e deu seu nome, ao fascismo italiano.

Os símbolos da união, e a palavra, são usados para legitimar noções completamente divergentes.

A unidade que abrange

Nada tenho contra a unidade - afinal, estou escrevendo no próprio blog de Peladistas Unidos, espaço este fundado por Ariana Boss, onde reina a pluralidade de opiniões, uma guarda-chuva (ou talvez melhor, guarda-sol) que abrange pontos de vista opostas, em cordialidade.

Abrange a pluralidade de opiniões, e a totalidade de informações. Joaquim cuida de postar na lista "Peladistas Unidos" todas as notícias, e não somente as que agradam ou apóiam um visão específica. Ou as que pintam um retrato de naturismo somente em tons de cor-de-rosa.

É interesses em comum que fazem um comunidade, mas interesses comuns não implicam na necessidade de uma ponta de vista única. Caminhamos na mesma direção, mas podemos discordar sobre a percurso a ser seguido. Mas vendo todos as informações e várias opiniões, podemos fazer a escolha melhor.

A unidade que se imponha

No meio da fasces, há o machado - simbolizando a força. Afinal, a união de todos dá a autoridade de disciplinar, não é?

O fascismo colocou o Estado acima do indivíduo. Qualquer fanaticismo é assim: a igreja que queima o herege em praça publica; a guerrilha que executa os companheiros que divergem a linha ideológica (que é sempre bastante estreita); a sociedade que marginaliza quem tem o cor de pele errada, ou o sotaque de classe baixa, ou não use as roupas de moda (ou qualquer roupa).

Não sou naturista: minha área de interesse é crimes de imprensa, e o caso Colina do Sol é um dos maiores do Brasil. Uma coisa que estranhei do naturismo brasileira, é a ênfase em exclusão. Uma vez um grupo naturista se forma, o primeiro assunto é: quem podemos excluir? Solteiros, quem dorme com a esposa de outro homem, ou quem dorme com outro homem mesmo? Quem esta abaixo de 18? Que tal quem está abaixo de 1m50? O naturismo brasileiro, na minha experiência, gasta muito mais esforço restringindo e expulsando do que recrutando e acolhendo.

Não é nenhum mistério porque naturismo engatinha no Brasil enquanto cresce em disparada em outros regiões do globo.

Como diferenciar?

Geralmente dá para diferenciar quem procura a união como meio de chegar a algum objetivo comum: vamos nós defender, vamos compartilhar experiências, vamos tentar proteção em lei. Quem quer união só para ter união, geralmente está realmente dizendo "faz as coisas da minha maneira, pois aqui sou eu que mando."

A fasces simboliza tanto a força que um pau ganha se unindo aos outros, quanto à autoridade ao qual este se submete quando faz parte da comunidade - qual força a pau teme mais que o machado?

Mas no caso de Nelci Rones, e no caso Colina do Sol, a FBrN não mostrou a força da união. Mostrou, "a encrenca é sua, e vou cuidar da minha vida". A "união" da FBrN não protege os paus contra as ameaças de fora.

O machado está protegido, ali no meio dos paus. E como Jornal Olho Nu descobriu, o machado não hesita em mostrar quem é pau e quem é machado.

A fasces simboliza o contrato social, a união e a força. A FBrN promete a união, e exercita somente a força. Estamos melhores com ela, ou sem ela?