Fim de semana retrasada houve a festa de "Memorial Day" com a tema tradicional de Pirata no Olive Dell Ranch, conhecido recanto naturista de California. Fim de semana passada foi a "Fim de Semana Pirata" no ainda mais conhecido Cypress Cove em Florida.
Vimos, então, que o pirata é uma tema celebrada no naturismo - e em geral. No prateleira de bebidas no supermercado sábado a noite, pausei em frente dos rums (a fila não andava) e notei Captain Morgan e Ron Montila. Uma busca no internet revela muito mais marcas de rum que incorporam a figura de pirata na imagem do brand.
Porque piratas? Já escrevemos antes de piratas e nudismo, porém de um ponto de vista mais literário do que mercadológico. Fritz Louderback me informa que a AANR - American Association for Nude Recreation - tem incentivado as festas de temática pirata. Não busquei confirmação, nem os motivos oficiais, para tal decisão. Para que posso especular a vontade.
Pirata é festa
Porque a ligação entre piratas e festas? Digo "porque" em vez de questionar se existe, porque o pessoal de marketing de rum não é bobo, não. Haja tanta garrafa com pirata e não, por exemplo, com palhaço, porque pirata vende mais bebida. Quais motivos levam o pessoal de rum de enfatizar isso?
- Ligação cultural - a frase "Yo ho ho and a bottle of rum" é bem conhecido, ainda que o resto da música não é;
- Ideia de liberdade - entre os sinônimos de pirata é "freebooter", obviamente uma pirata é alguém livre das muitas das amarras da civilização;
- Ousadia, risco e coragem - pirata corre perigo de ser pego pela civilização, e ter as amarras de volta, até em volta do próprio pescoço;
- "Viver para hoje" - o pirata, com futuro incerto tem que aproveitar o dia de hoje, ou para jovem em bar, a noite de hoje;
- Clima tropical - enquanto havia pirata em muito do litoral da América do Norte, é no Caribe e regiões de praias e palmeiras que é mais associada na imaginaria americana.
- Fantasia simples e barata - do lado prático, não é necessário papagaio, perna de pau ou veleiro. Bandana e tapa-olhos já bastam.
Rum vs. naturismo
Porque o que é bom para o rum, é bom para o naturismo? Não há música ou tradição ligado pirata ao pelado. Vemos primeiro a ideia de liberdade.
A liberdade do pirata é atraente para quem vive na sociedade de hoje, cada vez mais cheia de regras e restrições. (Curioso que todos em todas as épocas pessoas acham que vivem um aumento de regras e restrições: Tom Sawyer fugiu das "restrições" de um menino da sociedade fronteira, para brincar de pirata.)
O naturismo tem como uma das suas lemas a "liberdade". Encaixa, então.
A coragem do pirata em tomar riscos, pode ser visto também na ousadia necessário para tirar a roupa. É uma ousadia inventada - as consequências são menores do que o novato imagina - mas também pedir um rum mais caro no bar, é de uma ousadia apenas imaginária.
A clima tropical dos mares das piratas, que no norte frígido lembra a clima de festa, também é ligado ao naturismo - sem calor, ficar pelado é desconfortável. Encaixa também, então.
A bigode faz parte do charme do pirata |
A fantasia mínima, exigindo pouca roupa e simples, também é conveniente para quem despreza roupa.
O que a pirataria traz para o naturismo?
Enquanto o pirata tem uma imagem de aventureiro viril que sabe se divertir, a imagem de naturismo está atoalhado na era de bolas de praia infláveis enormes e velhos que jogam shuffleboard.
Os piratas ganhavam as moças. As vezes jogando por cima do ombro quando voltavam para sua caravela, mas ganhavam. Em contrase, o naturismo "não é sobre sexo." Enquanto até liga de boliche ou grupo de jovens de igreja alarda que é um bom lugar para encontrar o sexo oposto, quem se interessar por algo que "não é sobre sexo"? Piratas, porém ...
Os piratas eram livres, agiam conforme sua própria vontade. Enquanto isso, o naturismo organizada se orgulha de ter regras, além das regras normais de convivência social. Puxa, se há apelo para jovens, seria em poder quebrar as regras de sociedade, e não para seguir novas regras de etiqueta, chamada de maneira esdrúxula de "código de ética".
O normal ganha charme com revestimento pirata |
Enquanto os piratas mais famosas são os ingleses - afinal, o ouro indo do Mundo Novo para o Velho era dos espanhóis, oponentes principais dos ingleses na auge (ou "era de ouro") de pirataria - não faltava pirata no litoral do Brasil.
Há em Ubatuba um hotel chamado do "Refúgio do Corsário", e o litoral norte de São Paulo tinha, sim, seus piratas. (Para quem domina inglês, recomendo Lord of Darkness de Robert Silverberg, de um marinheiro inglês sequestrado por piratas portuguese na Ilha Comprida, e levada para África onde viveu nu entre os canibais.)
Existem, obviamente, oportunidades. De vez em quando o Mirante do Paraíso promove passeios de escuna em mares que já foram dos piratas. Com uma bandeira de Jolly Roger e uns poucos outros acessórios, poderia ser uma viagem em busca de tesouro. Já há uma certa faz-de-conta nestas viagens, pois as "escunas" nunca usem as velas. Embrulhados, servem de enfeite. Porque não um pouco mais?
Algo a ser, algo a fazer
Um dos problemas que o naturismo enfrenta para atrair adeptos novos, e atrair gente novo, é a "falta do que fazer". Naturista tira a roupa. E daí? Faz o que? Eu não vou me sentir com vergonha? Um evento - uma corrida de 5 KM (distância em que a importância não é vencer, mas terminar, e quase qualquer um consegue terminar); uma tentativa de quebrar o recorde de skinny-dipping; uma festa de Carnaval ou de pirata: qualquer destes coisas oferece uma resposta ao "O que vamos fazer?" E uma resposta divertida.
Bem diferente da velha ladainha de "temos uma código de 'ética'", "respeitamos a natureza", "não é sobre sexo", "vem seguir nossas regras", "traz sua própria mulher porque não vai conhecer nenhuma aqui", mas vamos tirar a roupa! Parece uma programa de índio, no mal sentido e no sentido literal
À merda com o bom comportamento e as bolas infláveis grandes. Vamos para uma festa de pirata! Os piratas são quem sabem se divertir!
Um comentário:
Gostei! Muito bom texto! Parabéns! É isso aí, vamos nos divertir. Já temos regras demais na sociedade, se não for para se divertir não vale a pena. Naturismo não precisa ser chato, para se demonstrar um bom comportamento não é necessário ficar sério o tempo todo. Sempre digo que as coisas devem ser naturais, espontâneas e prazerosas.
Então para a nossa alegria, vamos festejar nus.
Abraço a todos.
Jorge.
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