Temos o prazer de dar boas-vindas ao naturista Nelci-Rones Pereira de Sousa como autor e não como o assunto da matéria.
A diferença entre ser autor e o assunto é importante, como ilustra este texto inicial. Participar do naturismo é uma coisa, ser objeto de curiosidade de turistas é outra. O convívio social é fundamental ao naturismo, e colocar naturistas como animais no zoológico ou como freaks de carnaval do interior, não combina com os princípios do naturismo, nem com a boa educação. Nem seja um bom pressagio para o futuro de naturismo no Brasil.
Grupo AndaBrasil na praia de Tambaba |
Pra justificar a invasão de mais de cem
pessoas vestidas dentro da área naturista de Tambaba, em uma travessia
que fazia parte de uma “caminhada ecológica”, a líder do grupo, esposa
de um dos comerciantes da localidade, deu uma entrevista à uma TV local,
onde cunhou a frase: “ O naturismo vai além da nudez”.
Esta frase
vem sendo usada com muita frequência em Tambaba, e até pelo Brasil
afora, para justificar um monte de práticas não naturistas por diversos
tipos de pessoas que se autodenominam naturistas, mas na realidade
exercem atividades muito diferentes daquelas vinculadas ao naturismo.
Ora, que eu
saiba, a expressão “além”, tem sentido de “depois”. Isto leva à uma
conclusão simples: sem a nudez não existe naturismo, como, aliás, está
implícito no próprio enunciado que define a filosofia. Por outro lado
“além da nudez” é uma expressão que quer dizer que o naturismo não é só a
nudez. Implica outros conceitos, como auto respeito, respeito ao
próximo e respeito à natureza. Apesar de não ser “só” a nudez, quando
praticada em grupo, continua sendo o fundamento principal.
A julgar
pela estupefação das pessoas que visitavam a praia no momento dessa
travessia, a atitude pecou em todos os quesitos que definem o naturismo.
Inicialmente, ao não estarem despidas para essa caminhada, demonstraram
que não possuem auto respeito pois necessitaram de subterfúgios, suas
próprias roupas, para se sentirem confortáveis. Depois, ao se
apresentarem vestidos na presença de várias pessoas nuas, provocando o
absoluto desconforto e constrangimento destas, desrespeitaram todas
elas, trazendo o total descumprimento do quesito “respeito às pessoas”.
Por último, não me consta que “caminhadas ecológicas” sejam eventos de
“respeito à natureza”. Qualquer pessoa sabe que essas caminhadas têm
como objetivo apenas apreciar a natureza, trazendo benefícios a si
próprio e não à natureza, podendo, às mais das vezes, ao contrário,
trazer prejuízos de diversos graus e gravidades.
Assim
sendo, onde existe a presença de naturismo nessa atitude? É muito claro
que esta é uma atividade que está muita “aquém” do naturismo. Portanto,
está provado que a expressão usada é altamente deturpada e praticada no
seu total antagonismo.
Mas, o que
mais me preocupa, e traz a minha total indignação, é o apoio que esses
eventos recebem das diversas entidades e associações que representam o
interesse dos naturistas no País, vislumbrando assim um quadro de total
alteração nos objetivos dessas entidades. Pior é que essas associações
vêm se fortalecendo com a participação em seus quadros de pessoas que
não têm a menor característica da filosofia, demonstrando uma alta
deformação dos propósitos iniciais firmados por quem os introduziu.
Sinceramente, estou com elevadíssimas cismas sobre o FUTURO DO NATURISMO BRASILEIRO.
Nelci-Rones Pereira de Sousa
Naturista.
Naturista.