Como diz na música “Uma Noite e Meia” de Renato Rocketh, cantada por Marina Lima: “Vem chegando o verão, um calor no coração, essa magia colorida, coisas da vida”. Cada estação possui a sua magia, mas o verão parece mais propício para desnudar o corpo e nele sentir as energias da natureza, é algo que não poderá ser falado porque cada pessoa poderá sentir de forma diferente. Lamentavelmente nesse país tropical, cujos primeiros habitantes já andavam nus, a prática do Naturismo/Nudismo como agente de integração entre mente-corpo ainda é desconhecida.
Algumas pessoas me dizem que nunca serão naturista/nudista, não entendem que dito dessa forma reflete um lado psicológico negativo do próprio corpo e consequentemente diante da vida. A civilização adestra o indivíduo a viver na irrealidade e ele assume como se fosse real, ele sonha e quando acorda ainda sente os reflexos daquilo que sonhou. Esse lado negativo não deixa aberturas para mudanças e evolução, assume uma postura intransigente, às vezes até arrogante diante da sua natureza. O conflito entre social x natural não irá cessar nunca. O mais correto seria dizer: “Não sou naturista/nudista, mas quem sabe algum dia!” Pelo menos abre-se uma porta para fazer avaliações, estudar o assunto, realizar reflexões sobre si mesmo diante do universo.
O historiador Viegas Fernandes da Costa ao escrever sobre a sua experiência com a nudez social no artigo “Sobre a Nudez Social” coloca o dedo na ferida de uma sociedade que recrimina o corpo e continua procedendo assim com o aval daqueles que ainda não compreenderam o que representa o movimento naturista/nudista no mundo. Cita ele: “Sabemos, portanto, do quão transgressor pode se caracterizar o gesto de tirar a roupa e conviver socialmente sem esta. Insisto lembrar que o caráter transgressor da nudez está relacionado com o contexto social em que se insere, em nosso caso, a sociedade têxtil. A transgressão e ousadia do ato parece ainda maior quando se trata de corpos que a sociedade classificou como “defeituosos ou deficientes”. Ou seja, que por alguma característica que manifesta, afasta-se da imagem que temos de um corpo normal, construída em nosso imaginário. Digo isso de experiência própria, já que carrego em meu corpo as marcas de uma doença neuromuscular que me atrofiou os membros inferiores e superiores, e provocou “deformidades” em minha coluna e tórax”.
A prática do Naturismo/Nudismo é provocativa na medida em que passamos também a refletir a inclusão do próprio corpo na natureza, aí começamos a pensar sobre o meio-ambiente, sobre os valores sociais e sobre muitos outros assuntos. Desenvolvemos a percepção de como a sociedade é neurótica! A dúvida que ainda carrego é que os psicólogos ainda tentam ajustar o indivíduo a essa sociedade. Penso que esse ajuste só poderá ser feito em parceria com uma filosofia, e o Naturismo/Nudismo pode ser uma proposta muito interessante. Vou aguardar uma resposta da amiga e professora de Psicologia Maria Rita que me permitiu um espaço para realizar uma palestra para seus alunos.
Naturismo/Nudismo é uma proposta de uma vida diferente, um olhar com naturalidade e de se sentir livre. Liberdade essa que também nos torna responsáveis porque estamos passando para futuras gerações uma nova perspectiva que inclui o respeito e harmonia mesmo com as nossas diferenças. Os conceitos que temos da natureza humana são verdadeiramente insignificantes e totalmente distorcidos, a ciência por meio da Física Quântica atesta isso, o físico alemão Werner Heisenberg em 1927 propôs o Princípio da Incerteza.
Experimentar o Naturismo/Nudismo até mesmo para fazer uma reavaliação do próprio psiquismo, amplia as possibilidades de entendimento de como enxergamos o mundo material. É um mergulho não só nas águas do mar, mas também para dentro de si mesmo. Tente, experimente, liberte-se.
Evandro Telles
19/11/13
Um comentário:
Quando era criança meus pais me ensinaram a nunca julgar ou ridicularizar as pessoas por algum aspecto físico. Fiz disso uma regra e realmente não vejo graça nenhuma em apelidar ou fazer piada a alguém por causa do físico, mas ninguém pensa assim. Tirar a roupa não é se libertar, minha humilde opinião, acho que liberdade não se limita a fazer uso de roupa ou não.
Acredito que em muitos aspectos a humanidade ainda tem muito a evoluir. Como abrir mão do uso da roupa, se as pessoas não entendem as diferenças? Não é uma questão de "recriminar o corpo" apenas. É questão de autoestima.
Estou bem com meu corpo, posso dizer que me encaixo nos 'padrões', apesar de não concordar com os padrões impostos pela sociedade e não concordar com qualquer padrão imposto.
Só não quero que me apontem o dedo e digam que sou feio ou tenho que mudar algo no meu corpo. Não é questão de me importar com o que os outros pensam, é simplesmente não deixar que digam o que é melhor para mim ou para meu corpo. O ser humano é perverso por natureza, como a criança que vai à escola e sofre por ser orelhuda, vai algum dia querer se despir por inteiro? É realmente uma questão de tirar a roupa?
As pessoas discriminam as deformidades do corpo independente de estarem vestidas ou não. Não se deve demonizar a roupa. Se não me engano, nos primórdios, o homem já usava peles de animais para cobrir regiões "delicadas" do corpo ou para se aquecer do frio. A roupa é a real vilã?
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