domingo, 3 de abril de 2011

Os naturistas e as suas “vergonhas”


Estava vendo a foto oficial da diretoria eleita da FBrN. Ali havia somente uma mulher e também me chamou a atenção de haver um vestido de índio e outro com um chapéu. Oito homens em pé e a mulher e três homens agachados, à frente.

O de chapéu, o novo presidente, vestido de chapéu, dizem que é uma imitação da moda lançada por Richard Pedichini. O chapéu não tem o mesmo charme do chapéu de Richard e faltou o bigodão.

O cocar do personagem vestido de índio parece-me ser um made in China. Quando o Japão estava no processo de decolagem à potência econômica era o grande fabricante de produtos indígenas norte-americanos. Eram todos made in Nipon. Um bonito cocar!

Fui ao Google procurar algum conceito de naturismo. Encontrei este:

O naturismo (não confundir com naturalismo) é um conjunto de princípios éticos e comportamentais que preconizam um modo de vida baseado no retorno à natureza como a melhor maneira de viver e defendendo a vida ao ar livre, o consumo de alimentos naturais e a prática do nudismo, entre outras atitudes.( http://pt.wikipedia.org/wiki/Naturismo)

Sinônimo de nudismo. Entre outras atitudes. Quais são? Não sei. Vamos pensar no nudismo. –ismo. Quando eu era novo o –ismo significava doutrina, escola filosófica, doutrina política, religiosa, etc. Mas também significava condição patológica. Este significado suplantou todos os demais. Com o movimento gay o homossexualismo virou doenças e agora o politicamente correto é se referir à homossexualidade. Mas o naturismo ainda não chegou a ser condição patológica. Mas não sei... Pelas atitudes da polícia e da justiça de primeira instância, em casos recentes precisamos colocar as barbas de molho.

Este blog optou pelo –ista. Este sufixo indica a práxis dos –ismo. Se considerarmos com um pouco de esforço que o “conjunto de princípios éticos e comportamentais” seja uma doutrina, os partidários do naturismo seriam os naturistas. Ou nudistas. Andar nu. Ou, como se prefere, a nudez social.

Até aqui tudo bem. Mas a fotografia a que me referi acima me suscitou uma pergunta: o que é ficar nu? O nosso amigo que se apresenta com um cocar o faz para se aproximar aos indígenas, exemplo de se andar nu. Hoje em dia é tão pequena a distância entre o andar vestido e andar nu que em algumas situações nem sabemos quanto se está numa ou outra situação. Fora isto, em certas situações a nudez e a não nudez depende das lentes morais de quem observa. Ou é situacional: um maiô fio dental ou uma sunga são vestimentas numa praia, mas podem indicar nudez na Avenida Paulista.

Então talvez seja melhor reformular a pergunta: o que é estar nu? Os nossos amigos de cocar e de chapéu estão nus? Lá no começo foi comentado que o de chapéu segue a moda Pedichini e o outro se sente índio porque os índios andam nus. A maioria andava.

Eu acho que já andei comentando por aqui que o corpo é a metáfora da sociedade, segundo os ensinamentos de Mary Douglas, uma antropóloga inglesa. Isto quer dizer que o nosso corpo identifica “o que somos” em sociedade. Classe etária, social, econômica, gênero e até opção sexual. Fazemos isto utilizando-nos de nossas roupas e do nosso corpo. Maquiagem, tatuagem, tipo de barba e bigode., cortes de cabelo, anéis, etc. Nós nos vestimos socialmente. Desta forma poderemos estar vestidos socialmente sem qualquer peça de roupa no corpo. Isto é, com as marcas que nos identificam.

Um dos primeiros textos deste blog, escrito por Ariana, há um comentário interessante, da preocupação de as pessoas repetirem em cada encontro naturista as suas atividades de trabalho, sociais, enfim do que elas são em sociedade. Elas estão se vestindo verbalmente. Ao se sentirem socialmente despidas pela fala dos signos que a identificam socialmente começam a se vestir verbalmente. Nós conseguimos nos relacionar com o outro quando o identificamos e este é o motivo destas nossas vestes verbais quando o nosso corpo está sem as vestes sociais, as nossas roupas.

Entre os índios que ainda não aderiram às roupas isto é feito através de pinturas corporais, cortes de cabelo, determinados enfeites nos indígenas têm o mesmo significado, de eles se vestirem socialmente.

Desta forma o cocar quanto muito identifica o que pensamos a respeito dos índios, Mas sem qualquer significado para eles.

O que acontece entre os naturistas (brasileiros, pelo menos) é uma espécie de complexo de culpa à nudez de Adão e Eva depois da imposição da folha de parreira. O naturismo dos nossos naturistas parece-me ser o desejo da volta ao paraíso quando o mito o associa ao pecado da nudez. Tal é a insistência de tentar associar a nudez passagens bíblicas. E inconscientemente (ou conscientemente?) associar a nudez ao sexo. Mesmo negando. Exemplo disto é discriminação ao homem solteiro. Uma demonstração do machismo tão negado.

Toda esta repressão à nudez, dentro e fora do naturismo é porque se entende que estar nu é estar com “as vergonhas” descobertas, como os cronistas quinhentistas deixaram registrado.

Enquanto isto o que é primordial do nudismo (no sentido da nudez), como o respeito e aceitação do corpo de cada um e dos outros, fazê-lo respirar, é deixado num lugar secundário.

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