sábado, 8 de janeiro de 2011

Continuidade no naturismo brasileiro

A continuidade é dado, como a unidade, como motivo para não chutar a FBrN para o lato de lixo, criando uma organização nova para representar, e defender, naturistas.

Brasil tem uma longa tradição de naturismo. Cabral já encontrou o naturismo praticado por todos. A Luz del Fuego personificou naturismo com a fundação da sua Partida Naturista Brasileira em 1949, e no seu Clube Naturalista Brasileiro em 1954, como Laércio Júlio da Silva explicou aqui no verão passado.

Paulo Perreira, que conheceu Luz del Fuego, dá muitas detalhes sobre a verdadeira historia de naturismo brasileiro nos seu livros, que podem ser comprados no site do Jornal Olho Nu.

Brasil estava representado na fundação da INF-FNI (Federação Internacional de Naturismo) em 1952, e no congresso desta de 1972.

Continuidade e ruptura

O naturismo brasileiro já pode traçar uma história de mais de meio milênio, ou de mais de meio século. Em comparação, o nome "FBrN" tem somente uns vinte anos de uso.

No site da FBrN, há um histórico que liga a organização ao passado, onde se nota uns dos nomes sob quais o naturismo brasileiro já funcionou:

  • Partido Naturista Brasileiro
  • Clube Naturalista Brasileiro
  • Fraternidade Naturista Internacional do Brasil (FNIB)
  • Associação Naturista Brasileira (ANB)
  • Federação Brasileira de Naturismo (FBN)
  • Federação Brasileira de Naturismo (FBrN)

Vimos, então que a descontinuidade de nomes é até uma tradição do naturismo brasileiro. Em 1988, a ANB tinha uma passado honrado, e tinha aguentado a repressão da ditadura militar, que era pesado com qualquer divergência, não somente a política, mas também a cultural e até sexual.

Não houve, em 1988, motivo de abandonar a bandeira "ANB" para adotar uma nova, muito menos fingir que a organização era completamente novo quando quando simplesmente continuou a ANB, o presidente deste, Hans Frillman, ficou como vice-presidente da FBN.

Motivos de mudança

Mas agora há motivos e demais para querer uma nova organização, sob um novo nome. Enquanto a ANB tinha de que se orgulhar, o nome da FBrN já está maculado, e há um armário cheio de esqueletos - e até quem costuma anda somente de pele, não deve deixar esqueletos expostos. A inevitável lavagem da roupa suja da FBrN poderia ser assistido em mais conforto, debaixo de uma outra bandeira.

O maior motivo, é claro, é o abandono de Dr. André Herdy e os outros três naturistas presos com ele no caso Colina do Sol em 2007. Naturistas brasileiros poderiam concluir que uma organização que não defende nem seu próprio presidente, não vai defender ninguém.

Quando Nelci Rones foi preso três anos depois, a FBrN mostou que agora estava preparada - para se distanciar com rapidez de qualquer naturista alvo de acusações falsas.

O mínimo de decência

Seria talvez injusta exigir coragem da FBrN e dos seus dirigentes. Para quem nunca faltou coragem é difícil entender quem nunca tinha.

Mas se coragem não pode ser exigido, o que pode ser esperado é o mínimo de decência. Se à FBrN faltou a coragem de defender Dr. André, pelo menos não precisava aceitar como delegado no Congrenat de 2009 um dos autores das falsas acusações, Etacir Manske. Não precisava aceitar Marcelo Pacheco - que estava curiosamente bem organizado para encenar a destituição de Dr. André em 2007 - e suas muitas procurações.

E antes de dizer que não tinha escolha, bem, a lei exige que reuniões sejam abertas, e fecharam as portas da eleição em violação direta da lei da União. Poderiam ter barrado Manske e Pacheco, sim.

No mesmo Congrenat, não precisavam escolher a Colina do Sol - cujo diretoria era composta basicamente dos caluniadores, e que continuava implacavelmente perseguindo os alvos das suas falsas acusações - como sede da ELAN em 2010, nem ter prestigiado o evento.

A falta de coragem é uma fraqueza humana que precisamos aceitar, ainda que não entendemos.

Mas o acolhimento da corja da Colina do Sol, foi uma falta de decência.

Não de poder esperar ou exigir de todos, coragem. Mas se pode esperar, se podem sim exigir, o mínimo de decência.

Os esqueletos financeiras

Um dos atos da FBrN - sem valor pois perpetrado antes que sr. Tannus foi finalmente legalmente empossado na presidência em novembro de 2009 numa eleição convocada e conduzida conforme a lei, na Praia do Pinho - foi de "reconhecer" uma "dívida" inexistente de mais de R$100 mil, com o sr. Elias Perreira. Era suposamente gastos que ele fez em prole da FBrN, como por exemplo ter se hospedado num hotel de luxo em Espanha quando outros dirigentes brasileiros (e europeus) optaram para um lugar de classe econômico.

Não sei o motivo deste "reconhecimento" de uma dívida tão além das possibilidades da FBrN. Nos EUA, serviria para fraudar a imposta de renda, mas no Brasil, não sei. Nem quero saber. Que a "dívida" de sr. Elais, e qualquer conseqüências criminais da sua fabricação, ficasse com a FBrN!

Tinha vermelha

Também durante muitos anos as contas da FBrN como sua personalidade, foram misturadas com as de Celso Rossi.

Eu já examinei muitos negócios de sr. Rossi, e o próximo que encontro que pode ser chamado de honesto, será o primeiro.

Tanto mais longe dos "rolos" de Celso Rossi, melhor. Mas fácil fechar e abrir outra organização, do que tentar levar para frente algo que foi contaminado pelo contato.

"Ética"

A usa da "ética" como um mecanismo para expulsar desafetos, é um defeito da FBrN que merece um postagem a parte. Mas é um dos males tão enraizados, de tão difícil de extirpar (quem pode estar contra algo chamada de "ética", ainda que não seja?) que melhor começar do zero, do que suar para chegar ao empatado.

Herança Indígena

Os verdadeiros raízes de naturismo brasileiro, nos antepassados indígenas, são valorizado por umas figuras atuais de naturismo, como Carlos Sena em Manaus e Wagner em Tambaba. Porém, foram sempre desprezados pelo FBrN.

Desprezados especificamente pelo FBrN, não pela Luz de Fuego, PNB, CNB, FNIB, e ANB. A FBrN preferiu enfatizar o corrente "europeu" de naturismo.

É que coisa alardeada como "europeu" atrai brasileiro classe média, que nem quer saber de bugre.

E a classe média tem algo que os pobres não tem, que é dinheiro. Pobres foram inúteis para a FBrN pois não possuem nada de qual eles podem ser defraudados, para depois ser expulsos por "falta de ética" se ousam reclamar.

Seria bom resgatar os raízes indígenas do naturismo brasileiro.

Mas a tradição e a continuidade?

O cenário brasileira está cheia de partidos políticos que traçam seus antecedentes até raízes ilustres. O cristianismo está cheia de seitas que se dizem as únicas carregadores da palavra de Deus. A cultura tem movimentos como o tradicionalismo gaúcho (aquele pessoal que anda de bombacha) que perpetuam um tradição que a história desconhece. O arquitetura alpina da estância de Gramado deve sua existência não as tradições alemães, mas a legislação municipal - tudo aquilo data da emancipação de Taquara nos anos 50.

Sim, ter uma tradição é útil, e qualquer organização nova pode enaltecer a tradição ilustre de Luz del Fuego, ou daqueles que pisaram nestas terras antes que Cabral.

Um tradição existe, e quem procura ligações, encontra, ou fabrica conforme a necessidade.

A FBrN se aproveito da estrutura da ANB - na maneira em que o cupim se aproveita da estrutura da casa. A situação societária da FBrN é problemática; o prestígio desgastado; e o moral, irrecuperável.

Deixe para lá. Vamos voltar para a ANB, ou para Luz del Fuego, ou aqueles que avistaram as velas brancas das caravelas de Cabral. Vamos nós despir da carapaça da FBrN, e encarar o futuro, desnudos.

Um comentário:

Luís afonso disse...

Prezado Richard:
Em primeiro lugar,parabéns pelo uso certeiro do português,que já difícil pelos brasileiros (e portugueses, diga-se de passagem).
O outro parabéns é pelo texto. Quando uma instituição afasta-se dos ideais que a criaram, vira coisa postiça, tão falso quanto usar calção de banho em praia naturista.
A questão é de representatividade. Se a FBrN representa-se a ela mesma, tão somente, há que preencher o espaço vazio.
Antes que algum outro oportunista venha vender mais um xarope milagroso "se deixarem tudo com ele".
Interessante como isso é uma imitação da representatividade político-partidária no Brasil, onde temos partidos demais que também somente representam a si mesmos.
Um grande abraço
Luis Afonso