Pedro Kirilos/Agência O Globo |
Liberdade de expressão
Um dos maiores perigos que o naturismo enfrenta é a falsa acusação de pedofilia, muitos vezes fotos naturistas sendo apresentados para a imprensa como "pornografia infantil", ou "a polícia encontrou fotos de crianças nuas" como justificava pela prisão.
Possuir ou tirar fotos naturistas, de pessoas de qualquer idade, não é crime. Seria útil a imprensa dizer isso. Mais útil ainda é quando a imprensa exercita a liberdade de usar a foto do nu, em vez de pontificar sobre o assunto. A Folha imprime fotos de nudez de vez em quando, até na primeira página. Já documentamos aqui no blog o uso de imagens de crianças nuas na grande imprensa brasileira. No uso do nu no protesto, "the medium is the message": o direito de usar o nu, e o direito de veicular a imagem, são ambos reforçados pelo uso.
Protesto
Pedro Kirilos/Agência O Globo |
Nudez serve hoje em dia para chamar atenção. Certos eventos, como o World Naked Bike Ride, conseguiram banalizar o nudez público. Aqui, estes três conseguiram emplacar no capa de caderno do maior jornal do país, o fato de que eles estavam protestando. Protestando o que? O público não ficou sabendo, e acho possível que daqui não muitos anos, nem estes três vão lembrar exatamente que recado estavam tentando passar.
Nudez
Estou esperando um texto de naturistas ou nudistas reclamando do uso de nudez por estes jovens, porque "não são naturistas", e "aproveitaram o nudez para outra agenda". Felizmente, estamos aqui no blog Peladistas, onde é desnecessário fingir que a "filosofia" de não usar roupa é mais profunda do que a "filosofia" de usar chapéu.
A ideia de que ha "naturistas verdadeiras" e outras que não são "verdadeiras" apesar de tirar a roupa é útil no naturismo brasileiro, onde já serviu na Colina do Sol para expulsar pessoas e confiscar aquilo para qual pagaram dinheiro.
Quando eu tinha a idade dos jovens nestes fotos, tatuagem era bastante marginalizado. Uma jovem que apareceu no colégio com um piercing seria internado para tratamento psiquiátrica. Ambos estas modas se normalizaram. Não é mais necessário divulgar que um tattoo no braço não é sinal de uma ficha na polícia. A moda espalhou, a comunidade pequena cresceu. E se diluiu. Perdeu o espírito do grupo perseguido. Mas a ideia não é mesmo deixar de ser perseguido?
A banalização do nudez, em protestos públicos como este, ou eventos culturais como as peças de teatro do Zé Celso, serve para normalizar naturismo. Claro que fazer de naturismo algo normal, o tira dos seus "donos", ou melhor dito, dos seus exploradores. Sei porque eles não gostam disso. Mas não ligo.
A imagem
Vimos que estes jovens não estão nus: cobriram seus rostos. E porque?
Ele usaram seus corpos para chamar atenção para seu recado, seja lá o que for. Mas escondendo seus rostos, mantém sua intimidade. O que importa se uma foto do seu peito ou pinto enfeita a capa do caderno do jornal, se ninguém sabe que é seu?
Já li vários relatos de naturistas novatos que acham bem mais fácil experimentar o naturismo social, se estejam longes de casa onde há pouco chance de encontrar qualquer conhecido. A camisa na cabeça fornece a mesma proteção contra conhecidos, ainda que confere um ar de rebelião de Febem.
O saldo do protesto
Creio que os jovens do foto atingiram seu alvo: foram para Rio de Janeiro, participaram de um grande protesto, aparecerem no jornal, e não duvido que houve música, cerveja e sexo. Seu "recado" não foi passado, mas foi algo que eles não cogitaram cinco anos atrás e não lembrarão em mais cinco.
Mas vão guardar o foto de jornal para mostrar para amigos, colegas, e talvez um dia filhos e netos.
O "causo" que ganho com este protesto foi naturismo, ou pelo menos peladismo. Os leitores do jornal foram expostos ao nu em público, e o céu não caiu. Outros jovens, com outros "causos", vão ver de que com mil palhaços na Avenida Rio Branco, num protesto que lembrava os desfiles da Avenida Marquês de Sapucai, foi esta a imagem escolhida para a capa do caderno. Haverá imitadores.
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