Estamos na época de Natal, como lembra em carta aberta o filho de Nelci Rones Pereira de Sousa, preso perto da praia de Tambaba, quase exatamente três anos depois que eclodiu o caso Colina do Sol, com acusações igualmente pesadas - e evidências igualmente insubstancias, e igualmente chamado "Operação Predador".
O Correio em João Pessoa acaba de soltar o título que "Delegado diz já ter provas em caso de pedofilia", mas o corpo de notícia informa que "Segundo o delegado, as meninas ouvidas disseram que não foram abusadas pelo acusado..." Não tem provas, e indo assim, não terá.
Para repetir, notícias nestes casos se entende pelos buracos, porque jornalista brasileira não informa, somente acusa. Se algo fortalece a acusação, é notícia; se comprova inocência, é caso de retorcer ou esconder.
Mostraram as fotos - não são pornográficas. Ouviram as meninas - não foram abusadas. No Rio Grande do Sul, nesta etapa, o próximo passo da polícia foi de torturar menores para "confessar" abuso, chamar uma psiquiatra desqualificada para "interpretar" as declarações de outros menores ("palavra de menor tem peso especial nestes casos" vamos ouvir - que não vale quando a palavra é "não aconteceu"), e plantar evidências.
Tudo do que vimos até agora, é exatamente o que veremos, se o Sr. Nelci Rones for inocente. Daqui em diante, começam as mentiras, e as alegações que "sigilo de Justiça" veta maiores informações sobre o caso. Incoerente, pois teria proibido o que já saiu com tanto barulho.
Agora policias e promotores vão se distanciar de fatos comprováveis para vagar pelo campo de psicologia, e abandonar acusações específicas que precisam se encaixar em algum artigo da Código Penal, e partir para a difamação, anunciando qualquer coisa que pode servir para macular quem foi, esta vez, "pego por Cristo".
Polícia, imprensa ...
Da polícia tivemos a truculência de sempre. Da imprensa, a eterna postura de claque apto a aplaudir e acreditar em qualquer um que acusa, de publicar manchetes que são desmentidos pelo corpo da notícia, de posar de paladino quando está brigando com seus pares para tomar o frente no posse de linchamento.
Para acreditar neste história, nestas "evidências", nesta interpretação da palavra das meninas que afirmaram claramente não foram abusadas, somente quem é desonesto ou incompetente.
Mas a polícia que temos, conhece os jornalistas que temos.
... e naturistas
E os naturistas. As reações que temos até agora são do Sr. José Antônio Ribeiro Tannús, que enfiou a cabeça na areia com a rapidez conquistada com muita prática. Depois, SONATA convocou uma reunião de emergência para "posicionamento desta Sociedade com relação ao ocorrido". O estimado presidente do ONG da Praia do Pinho sugere que está na hora de aderir aos padrões, e enforçar o que ele chama da "Código de Ética" - que não é um Codigo de Ética, que é um dos raízes do problema.
A prefeitura de Conde pegou a praia de Tambaba de volta de Sonata - mas já fez isso dia 22 de novembro, uma leitura mais cuidadosa revela. As acusações na casa Colina do Sol foram contra quem investigava irregularidades financeiras. Há algo atrás desta diferença de data que ainda não foi explicado. E deve ser.
Trenó
Nelci Rones Júnior, na sua carta aberta, detalhou os fatos, e fez uma réplica as acusações. Foi claro e focado - algo que vamos ver cada dia menos da polícia e da imprensa, conforme aumenta sua pressa e sua fúria para sustentar as acusações que já fizerem. Que são insustentáveis, pois falsas.
Mas no final, Júnior lembra de Natal.
Moramos num país tropical, onde estranhamente em pleno verão se pode encontrar neve num shopping. Os Natais da minha juventude era no visual iguais aos visões do marketing norte-americano; a realidade era de um frio brutal. Mais longe da praia de Tambaba, impossível.
Mas pensei naqueles ícones de Natal de outro hemisfério, e entendi a estratégia dos naturistas quando lembrei do trenó.
Não, não o trenó de Papai Noel - a decisão da TJ-RS que dizimou a indenização do Ratinho para Colina do Sol será publicado esta sexta-feira, e a Colina não vai encontrar um presente na meia, mas somente uma pedra de carvão.
Lembrou daquele trenó russo. Um noite de luar na floresta, a turma no trenó voltando da festa, e entre as sombras das árvores, outros vultos que se movimentam, e uivam e ficam cada vez mais próximos. Dá para ver o branco dos olhos, as bocas abertas, as dentes afiadas. E um é escolhido, e jogado para os lobos, e enquanto param para comer, o trenó, agora mais leve, se afasta.
Mas é por pouco tempo. Eles retomam a caçada, e logo é hora para outro ser jogado.
Pois é preciso preservar o trenó. "Não podemos permitir que a filosofia adotada pela Sonata seja confundida pelo mau comportamento de um membro", como disse a presidente da Sonata, Gione Pereira.
No luar da Sibéria, entendemos o que vai passar na praia de Tambaba, sob o sol de Paraíba. Será a mesmo que deu antes em Taquara, e o que dará na próxima vez que os lobos atingem o trenó. Quem foi jogado e está sendo jantado não foi nós, então porque olhar para trás?
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