Após 8 anos de naturismo, resolvi, pela primeira vez, escrever sobre minhas impressões sobre o que vi, ouvi, ouço e vejo entre os naturistas e parar para refletir se vale à pena continuar defendendo o naturismo por aí.
Quando ouvi a palavra naturismo pela primeira vez achei estranha, então fui tentar verificar a que a palavra induzia. Descobri o seguinte no dicionário HOUAISS da Língua Portuguesa, naturismo: natura + -ismo, prov. pelo fr. naturisme (1778) 'doutrina filosófica que considera a natureza como autora de si mesma' conjunto de idéias que preconizam um retorno à natureza como a melhor maneira de viver (vida ao ar livre, alimentos naturais, nudismo etc.). Tal terminologia leva a se compreender que “naturismo” implica reconhecimento do poder, da força, da independência da natureza, e que retornar à essa natureza poderosa respeitando-a se viverá melhor. E que naturismo inclui, viver livremente ao ar livre, fazer uma alimentação saudável porque assim não será necessário recorrer a fármacos, a própria natureza encarrega-se de proporcionar saúde ao indivíduo, e que naturismo é inclusive ficar pelado, ou seja, andar nu. Aí me pergunto, mas porque andar, nu, em que momento dessa filosofia seria necessário que eu ficasse nua? Para refletir sobre a vida sozinha ou em grupo? Para tomar banho de sol, apenas? Para nadar nos rios? Para suportar melhor o calor? Ou seja, veio-me uma série de questões em torno do para quê tirar a roupa. Muito bem.
Depois dessa reviravolta mental, topei conhecer pessoas envolvidas com o naturismo. Antes de sair perguntando coisas, preferi observar as atitudes. Então descrevo o que vi, via e vejo: pessoas reúnem-se nuas para fazer refeições (ou seja, almoçar ou jantar); normalmente ocorrem em sítios ou fazendas, normalmente, com piscinas, saunas, cachoeiras, quadra poliesportiva, campos para a prática de jogos em equipe, onde há muita vegetação e às vezes animais como gato, cachorro ou peixes em tanques. Percebo que as atividades propostas por esses espaços sugerem que as pessoas estejam juntas, sugerem que as pessoas estejam reunidas, que estejam, fisicamente, mais próximas uma das outras. Bom, até aí uma parte do naturismo que tenho em mente concretiza-se: as pessoas nuas mais próximas, fisicamente, umas das outras dos vegetais e dos animais, beleza. Que lindo! Achei maravilhoso.
Continuo a descrever, mas agora, sobre o que ouvia, ouvi e ouço: “olá muito prazer, meu nome é tal”; “de onde você é?”; “o que você faz?”; “ah, eu sou profissional em tal área”; “ah, eu faço tal coisa”; “você está acompanhado (a)?”; “ah, estou” ou “ah, não estou acompanhada”; “desde quando você está no naturismo?”; “bom, eu estou desde...”; “ih, é minha primeira vez em ambiente naturista”; “que legal, seja bem-vindo (a)”; “olha, depois de quinze minutos você nem vai mais perceber que está nu (a)”; “depois você nem vai mais querer colocar a roupa”; “pessoal, já tem carne pronta!”; “e vocês, não vão comer?”; “e vocês não bebem cerveja?”; “bom, eu bebo, mas é que estou dirigindo!”; “nossa que lugar bonito!”; “que lugar fresquinho”; “que piscina linda”;; “vamos jogar bola?”; “vamos para a sauna?” “poxa o dia foi maravilhoso!”... e acabou o assunto; “bom, até o próximo encontro”; “tchau!”. Esse é o assunto que rolou no encontro naturista. Conversas que levam as pessoas a se conhecerem melhor. Acolhedor! Há um interesse em saber sobre a vida profissional e pessoal do outro quando o outro está vestido. É bom isso! Faz parte da vida, vestidos ou pelados. No entanto, também está dentro da filosofia naturista! Ótimo!
Enquanto era primeiro encontro tudo bem, mas conforme o tempo foi passando, e isso foi repetindo-se foi ficando sem graça porque fui vendo que as pessoas não estavam, e não estão, tão próximas da natureza quanto parece. A parte do naturismo que cumprem é apenas o nudismo: ficar pelado! e ainda não têm claro em suas mentes porque é que tiram a roupa.
Diante do conceito de naturismo, o qual abarca toda uma filosofia ou estilo, fiquei interessada, mas isso implica meu relacionamento não só com os vegetais e animais irracionais, mas principalmente com o ser humano. Aí fui tentar por em prática, começando por tirar a roupa, fazer uma alimentação saudável, respeitar mais o meio ambiente (que não é só o sítio ou a fazenda onde os naturistas se encontram esporadicamente, mas a área urbana onde a maioria vive), olhar mais para os animais e respeitá-los... Até aí não tive problema algum porque a natureza é poderosa, respeitosa, generosa; os animais irracionais são generosos, respeitosos, amigos; o problema é o ser humano...
Bem, vamos lá... Descobri há naturistas e naturistas, há um grande número deles que se acha superior aos outros que não tiram a roupa “em público”; há naturistas que não respeitam gays e lésbicas...; há naturistas que não respeitam gordos e negros; há naturistas que são invejosos; há naturistas que são arrogantes; há naturistas que tiram sarro do tamanho do órgão sexual do outro; há naturistas que reparam o órgão sexual da outra; há naturistas que... Que decepção! Os naturistas também são seres humanos!!! Eu pensava que era um grupo de pessoas que punha em prática no mínimo o respeito ao próximo independente de religião, raça, time de futebol. Eu pensei que conseguiria conversar sobre, cinema, política, ética, artes em geral, filosofia... discutir qualquer assunto sem que uma das partes tomadas de cólera ofendesse minha pessoa e apenas discutisse as idéias! Eu pensei que não teria alguém do grupo de chamados naturistas, tentando impor sua visão de mundo sobre a minha de maneira tão primitiva, através de agressão verbal, de xingamentos... Eu pensei que ser naturista era ser pessoa de mente aberta para respeitar as diferenças...
CONCLUSÃO: questão da natureza é apenas uma desculpa para ficar pelado; o outro é aceito desde que pense igual ao líder do grupo; o líder do grupo respeita o outro desde que pense como ele; a nudez é motivo de chacota; a estética física do outro é alvo de sarro. Há uma inversão curiosa nos ambientes naturistas: QUEM ESTÁ VESTIDO É EMPREGADO, sem falar que é um reino de Poliana em que todos se vêem como puros e santos. É uma cambada de burguesinho especializado em excluir socialmente o outro, é um grupinho de crianças crescidinhas que fica esperando que papai Gabeira aprove a lei em prol do naturismo para ficarem brincando de ficar peladinho na beira da praia.
Gente!!! Fala sério, há atitudes que em crianças ficam engraçadinhas, mas em adultos são patéticas.
Que pena! Acho que vou virar PELADISTA!!! Há algum (s) por aí?
5 comentários:
Boa tarde, Ariana! Meu nome é Ivan e encontrei seu blog através do Jornal Olho Nu. Sou naturista praticante desde 2002, sempre que possível participo de encontros geralmente realizados em sítios alugados e eventualmente na Pousada Mirante do Paraíso. Concordo com algumas partes de seus comentários, quando cita que existem naturistas que se consideram superiores aos não-naturistas pelo simples fato de ficarem nu em público. Já me deparei com algumas pessoas com esse tipo de comportamento, que considero uma grande tolice.
Também concordo que a simples prática do nudismo num sítio ou numa praia está ainda muito longe de representar consciência ecológica, ainda mais se o nudista se intoxica com bebidas alcoólicas e se entope de carne e nesses casos, penso que o termo "nudista" é o que melhor se aplica.
Discordo de sua conclusão de que os naturistas não passam de "burguesinhos", até existem muitos no meio, mas também há pessoas maravilhosas envolvidas com o movimento, que se desdobram para conseguir concretizar a realização de encontros, que lutam contra aqueles que não aceitam e que tentam impedir a prática e do naturismo. Posso citar como bom exemplo a Praia do Abricó, no Rio de Janeiro, fruto da luta do naturista Pedro Ribeiro, entre outros.
Sobre a Lei Gabeira, a intenção é tirar a simples prática do nudismo social do Código Penal, pois já ocorreram muitos casos de naturistas que foram parar injustamente em delegacias de polícia, por denúncias de pessoas ignorantes ou que agiram por má fé.
O lado belo do naturismo e neste momento podemos dizer até ecológico é o de aceitarmos a nossa nudez e a nudez de nossos semelhantes. Pode ter certeza que o naturismo já ajudou muitas pessoas a superarem preconceitos trazidos desde a infância e que nos foram transmitidos pela sociedade, inclusive alguns transmitidos por nossos próprios pais. Não sou idoso, mas tenho 44 anos, nasci em 1964 e posso afirmar-lhe que a carga de preconceito com relação a costumes e pudores era bem maior do que é hoje. Entendo seu desapontamento sobre ter conhecido naturistas arrogantes, preconceituosos, etc, pois também de vez em quando me deparo com eles, além de eu procurar reconhecer e eliminar meus próprios defeitos, mas em todo grupo social, sem exceção, nos iremos nos deparar com estas situações, pois não existe paraíso aqui na Terra. Penso que todos estamos aprendendo, uns aprendem mais rápido, outros mais lento, é assim que funciona o processo.
Discordo também quando cita que no naturismo as pessoas são muito superficiais, pois temos pessoas ligadas em Yoga, massagem e outras terapias corporais, música, poesia, artes plásticas, politica,etc.
Sobre nos encontros o foco ser a piscina e o churrasco, ocorre que são momentos de simples confraternização, de desprendimento e alegria, coisa hoje em dia muito dificil, principalmente nos grandes centros urbanos, pois em geral todo mundo vive uma rotina estressante, com trânsito, longas jornadas de trabalho e de estudo, então, é natural que nesses encontros o povo queira somente se divertir, inclusive com atividade lúdicas, afinal, quando nos aproximamos do lúdico, nos aproximamos da mãe natureza.
Pessoalmene posso afimar que em meu caso o naturismo melhorou meu modo de ver o mundo e de me relacionar com as pessoas.
Um abraço!
Ivan Papparotte
Santo André - SP
Meu querido Ivan,
Ótimos comentários. Concordo na plenitude com tudo que vc observou.
Enquanto pessoas tentam desmoralizar nosso "modos vivente", fico contente em saber que há pessoas como vc que lutam para manter o equilíbrio necessário para levar a frente a nossa luta. Parabéns.
Concordo que existam naturistas que sao arrogantes, mal-educados, preconceituosos, burgueses e ate aqueles que nao respeitam a natureza. Eu conheço alguns deles. Acredito que existam tambem no pessoal naturista pessoas que nao saibam conversar contigo sobre cinema, política, ética, artes ou filosofia.
Mas pensando bem no pessoal do trabalho tambem tem estes tipos. No pessoal do futebol tambem. E no da academia tambem. Ate no pessoal da igreja a gente acha estes tipos. Se olhar-mos atentamente ate no pessoal da nossa propria familia encontramos estas figuras. Como voce mesmo descobriu ha naturistas e naturistas. Ora, basta se afastar do joio e se aproximar do trigo.
A proposito, cuidado com os peladistas. Ouvi dizer que sao um bando de infelizes, mal amados e rancorosos que nao sabem conviver nem tolelar as diferenças. Voce nao ia querer andar com gente assim, certo?
Naturistas são, como ecologistas, economistas, esportistas, professores, carregadores, garis, bancários, industriais, sacerdotes, comerciários..., um grupo de pessoas humanas, não uma parcela separada da humanidade, pura, imaculada.
Procurar perfeição e coerência entre os humanos, e o pior, utilizar o resultado (sempre frustrante) dessa busca como argumento para a decepção e o abandono do grupo, significa a constatação de que não conseguirá se agregar a grupo algum - nem aos peladistas.
Aqui estou eu comentando o primeiro post do blog de vocês! Meio atrasado, mas tá valendo.
Gostei muito do termo "peladista". Parece mais sincero. Sempre achei estranho o termo naturista, como se gostar de ficar pelado fosse ruim. Parece que daí resolveram criar um termo relacionado à natureza porque gostar da natureza vai ser mais bem visto pelos outros do que gostar de ficar pelado...
Por isso eu gostei da palavra "peladista". Diz exatamente que gostamos de ficar pelados sem rodeios. Vai direto ao ponto!
Postar um comentário