Por Laércio Júlio da Silva
02/11/2009
Os objetivos do embargo ou bloqueio no comércio internacional e na política são a proibição das relações e comercialização com um determinado país ou conjunto de países aliados, a fim de isolar uma nação e causar ao seu governo uma difícil situação interna, uma vez que os efeitos de um embargo são capazes de estrangular e arruinar uma economia em desenvolvimento. Na maioria das vezes, o bloqueio a um país torna-se injusto, pois quem paga na verdade é o povo do país “castigado” por quem acha que detêm a razão por meio da bota pressionada no pescoço do mais fraco. Um dos embargos mais famosos, independentemente da coloração política de quem está lendo esse artigo, é o feito desde 1962 contra o povo cubano. Em uma das maiores demonstrações mundiais de repúdio ao bloqueio estadunidense a Cuba, há poucos dias, dos 192 países membros da ONU, 187 foram favoráveis ao fim do bloqueio em uma votação histórica. Apenas os EUA, o fiel estado de Israel, e o Palau (para quem não sabe, incluindo eu mesmo, é uma pequena ilha de pouco mais de 20.000 habitantes incrustada no mar das Filipinas...) votaram pela manutenção e apenas dois se abstiveram: Marchall e Micronésia.
A história é a seguinte: em 1959, com ascensão dos barbudos liderados por Fidel Castro ao poder expulsando um governo ditatorial e corrupto apoiado militarmente pelos EUA, Cuba escolhe a via socialista de desenvolvimento a partir de 1962. O choque de interesses com medidas populares de nacionalização de empresas norte-americanas e a aproximação com a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas(URSS) fizeram com que os EUA imediatamente bloqueassem qualquer ajuda a Cuba. Em 1992, o embargo foi convertido em lei pelo Congresso Americano (pasmem...), e, em 1999, sob a batuta do presidente democrata Bill Clinton, o mesmo partido do atual presidente Barack Obama, foi duramente ampliado, proibindo as filiais estrangeiras de companhias estadunidenses de comercializar com Cuba valores superiores a 700 milhões de dólares anuais. A medida, lamentavelmente, está em vigor até os dias atuais, tornando-se um dos mais duradouros embargos econômicos da história moderna.
Filho legítimo da “guerra fria”, o bloqueio é também consequência do antigo embate entre dois países, EUA e URSS, sendo que um deles sequer existe na atualidade. O bloqueio se expande hoje para além das relações comerciais, tornando-se um conjunto de medidas culturais, tecnológicas e de saúde pública também, chegando ao ato criminoso da proibição de exportação de medicamentos. O dano econômico direto ao povo cubano acumulado até dezembro de 2007 pela aplicação do bloqueio econômico, comercial e financeiro dos EUA contra Cuba, ascende, a partir de cálculos conservadores, a uma cifra que ultrapassa os 93 mil milhões de dólares (fonte: Relatório Cubano a ONU). “O embargo americano contra Cuba está colocando em risco as vidas de milhões de pessoas, impedindo-as de ter acesso a remédios e tecnologias médicas vitais. Essas sanções são imorais e devem ser levantadas imediatamente”, declarou Kerrie Howard, subdiretora da seção Américas da Anistia Internacional, em um comunicado difundido em Londres. Atos insanos, como a recente proibição do governo americano, que impediu que a Orquestra Filarmônica de Nova York se apresentasse em Cuba, só se comparam ao fato de artistas cubanos não poderem ser remunerados por suas apresentações para o público americano. A criação artística também passou a ser considerada um “crime” pelo bloqueio. No campo do Turismo, um dos principais setores da economia cubana atualmente, muita gente perde a oportunidade de conhecer as praias caribenhas de Varadero e a ilha de Cayo Largo, local onde o naturismo é tolerado. Naturismo inspirado no que era incentivado pelo socialismo praticado na extinta Alemanha Oriental, como educação para o pensamento igualitário e coletivo.
Com mais essa recente condenação moral por parte da Assembleia Geral da ONU, o governo Obama tem a oportunidade histórica de liderar mudanças rumo à eliminação total desse bloqueio insano imposto aos nossos irmãos cubanos, verdadeiro crime contra a humanidade que se perpetua há quase meio século.
Laércio Júlio da Silva é diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo – Goiasnat
www.goiasnat.com.br
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
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