segunda-feira, 1 de junho de 2009

“El Che” que faz parte de nossas vidas


01/06/2009


Permita, caro leitor, uma pequena licença literária. Como tenho escrito sobre naturismo e meio ambiente, prometo ligeirinho voltar ao assunto. O filme Che, o Argentino, em cartaz nos cinemas do País, me inspirou a mais esse arremedo articulista. Muito se tem escrito sobre o argentino, cubano, cidadão do mundo, Ernesto “Che” Guevara de La Serna. O Che que faz parte da minha vida começou a me influenciar cedo, ainda criança. A lembrança mais marcante foi quando de sua morte. Uma atmosfera triste tomou conta de nossa casa quando da confirmação de sua morte na Bolívia, depois de anos de desaparecimento do cenário político. A notícia nos golpeou de surpresa e parecia inacreditável, ainda que para mim com pouca idade, o clima se assemelhava a morte de um parente próximo.

Somente dois anos depois, em 1969, podemos saber com detalhes o que aconteceu naquele paupérrimo povoado no interior do pais vizinho. O primeiro livro que saiu no Brasil sobre o assunto foi uma biografia muito bem escrita chamada Mi amigo El Che, de Ricardo Rojo, volume que tem uma história toda peculiar para nossa família. Escrito e editado um ano após a morte de Che, o livro foi adquirido por meu pai e teve uma trajetória interessante: proscrito e proibido logo em seguida pela repressão da ditadura que se instalara no país, o livro passou secretamente de mão em mão, várias vezes copiado e lido, até ser devolvido por obra do destino a nossas mãos. Todo roto e encapado várias vezes com o intuito de não ser identificado pelo título que pela primeira vez estampava a famosa foto estilizada do fotografo Alberto Korda, ícone este que viria a ser somente menos conhecida que a cruz católica no mundo.

Contou um amigo nosso que desconfiado de estar sendo perseguido pela polícia política, jogou o livro em um matagal voltando dias depois para buscar o moribundo exemplar que continuava, pasmem, em condições de leitura!

Decidimos que nos anos de chumbo o livro ficaria escondido atrás de um galinheiro, enterrado com outros documentos valiosos que valeriam cadeia e tortura naquela época. Anos depois, após idas e vindas do exílio, com o chamado processo de abertura do regime militar, podemos finalmente desenterrar o tesouro. Estava lá o livro em condições para novas leituras. Hoje, para mim o “sobrevivente” se assemelha a um troféu, aflorado das catacumbas escuras retornando a luz e, graças à democracia, toma corpo nas telas de cinema... Coisa inusitada para a época, marcada por perseguições!

Longe do ícone pop que se transformaria mais tarde, é esse o Che que conheço. Lamentavelmente, a juventude pouco conhece o homem, transformado em mito. Felizmente, filmes e livros estão preenchendo essa lacuna, mostrando o lado humano, independente da concordância de seus métodos, de um ser que se preocupou em mudar o mundo. Uma dedicação à humanidade quase inexistente na atualidade, principalmente a que deveria haver entre a juventude naturalmente rebelde. Mesmo quem não concorda em nada do que pensava ou fazia terá de concluir que “El Che” foi um homem que agiu conforme suas convicções, seguindo até as últimas consequências para provar suas verdades. Isso é um exemplo digno para uma juventude que se vê atolada em valores inversos de um mundo dominado pela hipocrisia da classe política de nossa querida Pindorama.Um líder estudantil certo dia me confidenciou sobre o atual perfil do movimento estudantil, outrora combativo e inserido na sociedade, mas que agora se restringe a um sentimento de apatia que não vê mais sentido na entrega a uma causa; as lideranças viraram trampolim para cargos políticos e hoje o jovem estudante está mais preocupado em si mesmo, tendo pouco interesse no que acontece na sociedade ou mesmo como intervir para melhorá-la. O resultado disso são jovens deputados embriagados fazendo vítimas, sem deixar de citar aqueles que estão pouco se “lixando” para o opinião pública!

Espero que o exemplo do jovem médico “El Fuser” (apelido de Che Guevara) que trabalhou voluntariamente em paupérrimos leprosários da América Latina, possa inspirar essa juventude.

Para não fugir ao tema que até agora me propus, o comandante Che Guevara era famoso pela total tranquilidade com que se despia na frente das pessoas, possivelmente inspirado por sua mãe, Célia de La Serna, feminista argentina, nem um pouco adepta da calcinha e do sutiã, um escândalo para a época.

Conta uma “chiste” cubana que em meio a um momento de descontração entre um combate e outro na Sierra Maestra em Cuba, resultado de vários dias na mata sem banho, o comandante teria afirmado que poderia colocar a sua cueca em pé de tão encardida. Desafiado por uma aposta entre os companheiros, sem cerimônia, ele tirou a roupa de combate e a cueca na frente de todos. Dizem que ele teria ganhado a aposta...

Laércio Júlio da Silva é diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo, o Goiasnat. (www.goiasnat.com.br)

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