sexta-feira, 17 de abril de 2015

Como são vistas as fotos de Sally Mann


O New York Times traz neste domingo matéria de Sally Mann, que vinte anos atrás publicou o livro "Immediate Family" com fotos das suas crianças, as vezes peladas. O título é "A exposição de Sally Mann: o que uma artista capta, o que uma mãe sabe e o que o público vê pode ser coisas perigosamente diferentes.

O análise da Mann não é jurídica, mas artística e filosófica: quer dizer, mais profundo do que é comum neste assunto. Que não quer dizer que ela desprezou o lado legal - entendeu, e foi além. Em busca de orientações décadas atrás, procurou o FBI e foi lá com o marido e os filhos, para falar com o agente Kenneth Lanning. Já conheço o nome de Lanning, que foi um daqueles que acabou com o febre de "abuso ritual satânico" de escolinhas lá nos EUA.

A foto não é a pessoa

No lado filosófico, Mann explica a velha regra de que a mapa não é o território:

O fato é que estes não são os meus filhos; eles são figuras em papel prateado pinçadas fora do tempo. Eles representam os meus filhos em uma fração de segundo em uma tarde específico com infinitas variáveis ​​de luz, expressão, postura, tensão muscular, estado de espírito, vento e sombra. Estes não são de fato os meus filhos; estas são as crianças de uma fotografia.

Até as próprias crianças entenderam essa distinção. Uma vez, Jessie, que foi de 9 ou 10 anos na época, estava experimentando vestidos para vestir a uma vernissage numa galeria em Novo Iorque das fotos de família. Era primavera, e um vestido era sem mangas. Quando Jessie levantou os braços, ela percebeu que o peito era visível através das cavas grandes para os braços. Ela jogou o vestido de lado, e uma amiga comentou com alguma perplexidade: "Jessie, eu não entendo. Por que diabos você se importa se alguém pode ver o seu peito através das cavas quando você vai estar em uma sala com um monte de fotos que mostram que mesmo peito nu? "

Jessie foi igualmente perplexo com a reação da amiga: "Sim, mas aquilo não é o meu peito. Aquelas são fotografias."

A Folha de S. Paulo traz várias matérias do NY Times toda semana, com sorte esta será uma. Senão, voltaremos com mais extratos traduzidos.

Além do superficial

Mann reclama que vários críticos confundem o papel de fotógrafa com a papel de mãe. Ela revisita o controvérsia de ambas destas perspectivas, e de outros.

Em contraste, as críticas com que o livro foi recebido faz vinte anos, parecem superficiais. Não captam a distinção entre pessoa e imagem que até Jesse Mann já entendeu com nove anos.

Partem da pressuposição de que não há nada mais invasiva do que a exposição da pele. Porém, tudo mundo tem um pele, e na pré-adolescência, os peles seguem um padrão (ou dois padrões) bastante, bem, padronizadas. Já notamos gente rica expondo nudez dos filhos ou até as própria fotos de infância, sem preocupação e sem consequências.

Além da visão legal

Há uma ideologia entre advogados, promotores, etc. de que quem não adota a visão jurídica, "não entende" do assunto ou da lei. É possível entender e discordar, até por entende o assunto melhor. Mann entende, e entende melhor que as críticas, e melhor que a comunidade jurídica. A matéria compensa muito a leitura.

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