ESCRAVO DA ROUPA
Para os puros todas as coisas são puras (Tito 1;15).
“Terra à vista”, deve ter sido isto que gritaram quando descobriram este país e todos a bordo curiosos em ver o que seria encontrado neste novo mundo. Encontraram índios nus que nas lutas entre fuzis e arco e flecha vencem os primeiros.
O que fazer com eles? Coloquem roupas neles porque em nossas terras tão distantes não precisam saber que aqui as pessoas são livres, e se eles abrirem mão da sua liberdade todos os seus valores e crenças poderão ser negociados, serão nossos escravos. Mas capitão, que roupas devem dar-lhes? Qualquer uma, desde que não sejam iguais as da Corte.
Estabelecida a separação das pessoas, cria-se também a competição e uma nova luta surge, agora não mais pela liberdade e sim para pertencer a “alta sociedade”, as roupas que foram dadas não servem mais, é preciso das melhores para ser considerado uma pessoa de bem e respeitável.
Nos dias festivos além de usar as melhores, elas tem que estar também na moda que é ditada pela Corte, senão o indivíduo será rejeitado, seus valores como ser humano se perdem porque foram também escondidos atrás de uma máscara que não encontro outra palavra para qualificar: “hipocrisia” que traduzindo através do Dicionário Aurélio diz que hipocrisia[Do gr. hypokrisía.] Substantivo feminino. 1.Afetação duma virtude, dum sentimento louvável que não se tem. 2.Impostura, fingimento, simulação, falsidade. 3.Falsa devoção.
São estes valores com que os Naturistas querem restabelecer e que neste país dos índios muitas pessoas ainda estão cegas pela beleza aparente da Corte e pelas facilidades que podem ser proporcionadas. A liberdade? Pode ser negociada, foi vendida para ser escravo. Isto não é visto por uma geração mais nova porque falta muito a divulgação das práticas naturistas como um meio da valorização da pessoa e de proporcionar dignidade a todos os seres viventes, como também falta muito o interesse pela leitura, hábito um pouco esquecido como uma forma também de questionamentos, e não foi ao acaso que em regimes ditatoriais livros ditos “proibidos” foram queimados em praça pública, para que os indivíduos não fiquem esclarecidos e conscientes das qualidades humanas.
Na escravidão das roupas cria-se também um terreno fértil para a promiscuidade e futilidades, a mulher é vista como objeto que pode ser comprado em qualquer esquina, afinal tudo pode ser comprado mesmo, foi vendida a liberdade, esqueceram? Só não percebemos que tudo isso é uma questão de poder e preconceitos. O homem subjugando a mulher para atender seus desejos sexuais, os mais bem vestidos com as melhores oportunidades no mercado de trabalho como sinônimo de sucesso, a beleza física como se fosse algo que pudesse ser alcançado, gerando aí uma grande frustração. Viramos escravos de um sistema que nos induz dizer que vestidos somos bonitos. Quanta mentira para exercer o domínio e poder sobre as pessoas!
Ser Naturista não é só tirar as roupas, é merecer ficar sem elas. Merecimento alcançado pelo desprendimento do corpo e mente, é a conquista da liberdade perdida na era colonialista, é a convivência harmoniosa e respeitosa com todos que os cercam, incluindo aí também os animais. Ser Naturista realmente não é a solução para tudo como alguns já me questionaram, mas o efeito dominó que se causa pode ser SIM uma grande solução para muitos dos problemas sociais vivenciados nos dias atuais. É também uma grande área para estudos da psicologia, da psiquiatria, da sociologia, da antropologia, da medicina, da história e posso de cadeira e carteira afirmar até mesmo das finanças.
A época da escravidão acabou, mas continuamos presos em nós mesmos, nos valores ditados como importantes, nos modismos ditados por uma telinha de televisão, nas propagandas enganosas de que a beleza é fundamental, continuamos escravos dos desejos de consumo como ostentação de poder e orgulho e por isso muitos se atolam em dívidas sem condições de saldá-las. É preciso respirar, deixar o corpo sentir toda a energia que só a natureza pode proporcionar e é imprescindível tirar as amarras da Escravidão das Roupas.
Evandro Telles
07/06/09
quarta-feira, 10 de junho de 2009
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