terça-feira, 23 de julho de 2013

Folha de S. Paulo: a panelinha de naturismo

A Folha de S. Paulo escreveu hoje de naturismo, com grande perspicácia e com espaço enorme, a capa e sete páginas internas da revistinha de domingo. Domingo a noite estava como a matéria mais lida da edição online. Li a matéria logo depois um ensaio de Fernando Gabeira em que o autor da Lei Gabeira nota que, "O mês de junho envelheceu rapidamente os partidos, como se as câmeras os fotografassem usando o efeito sépia para transmitir a atmosfera de passado que os envolve." As manifestações pacatas no Parque de Ibirapuera, e esta matéria no maior jornal do Brasil, envelheceram o "naturismo organizado" brasileiro.

O título da matéria principal é "Todo mundo pelado: naturistas paulistas brigam entre si pelo direito à nudez pública", e os repórteres Ricardo Senra e Danila Moura entrevistaram aderentes de vários movimentos: Alfredo Nora que organizou as manifestações no Parque do Ibirapuera, Rose Santana do SP-Nat, da Marcha das Vadias, da Pedalada Pelada. Um dos criadores desta última, André Pasqualini, deu a frase emblemática da reportagem:

"Acho uma incoerência enorme alguém que se diz naturista ser contra esse movimento no parque", afirma André, que foi preso na primeira bicicletada nudista.

Sobre a rusga entre os pelados radicais e tradicionais da cidade, André tem o seguinte a dizer: "Sabe qual é o motivo? Briguinha de ego, gente reclamando de quem está a fim de formar uma panelinha naturista".

O suite de matérias mostra uma divisão entre os naturistas novos, que fazem alguma coisa, que levam naturismo para as ruas ou os parques, e um outro grupo, que é retratado como pessoas plantadas defendendo seus castelos isolados, com seus mentes medievais.

O jornal ainda coloca as opiniões de três renomados juristas sobre o naturismo público. Topless nunca dá processo, conforme um. E o uso do nu em protesto, é protegido pela Constituição.

Recomendo a leitura integral das matérias. Só não as coloco aqui para respeitar o copyright. Além da mateira principal há uma sobre aspetos legais; sobre terapia corporal nu; sobre "pelados que viraram notícia", e regras de etiqueta, onde se encontra o que a FBrN incorretamente chama de "Código de Ética".

O que importa?

Alfredo Nora postou no Facebook depois que a matéria saiu,

agradeço à revista da folha ter me dado a capa de hoje. mas lamento que mesmo cheios de boas intenções e com pessoas esclarecidas envolvidas, colocaram em primeiro plano, acima das questões fundamentais, uma novela ridícula e insignificante do que chamaram de "guerra entre naturistas radicais e tradicionais" ...

Panelinha velha?
Enquando Alfredo era o principal entrevistado, não era o único. Porque São Paulo lembre a Revolução de 1932 enquanto o resto do Brasil nem dá bola? Porque o Guerra Civil americano é ainda importante para os estados do sul, e águas passadas para os do norte? É que a guerra importa mais para o lado que perde.

E como a matéria mostrou, os "naturistas tradicionais" estão perdendo a guerra. Alfredo os procurou e foi repulsado. Sem dúvida, os repórteres ouviram muito mais do "conflito" do lado das pessoas ligados ao "naturismo organizado", do que ouviram de Alfredo, pois para eles, importa mais. Eles que estão fazendo guerra - e vendo que suas "armas" nem atingem o "inimigo". São irrelevantes e obsoletos.

Discorde de Alfredo de que a agressão dos coligados da FBrN seja uma "novela ridícula e insignificante". Eu já escrevi no Jornal Olho Nu sobre a segunda e a terceira "ManiFestAção" no Parque de Ibirapuera. Eu sabia da fricção com o "naturismo organizado", e foi por isso que fui assistir. Não escrevi disso pois ao meu ver não combinava com a linha editorial do veículo, e também porque parecia que poderia ser um aberração momentânea de uma dirigente que estava sob estresse por outros motivos. E atacar uma pessoa nesta situação, não combina com minha linha.

Acertou na mosca

A Folha acertou em cheio. O naturismo brasileiro vive, de fato, uma guerra. A guerra é pior do que a Folha imagina: comentamos esta semana o papel que a atual diretoria da Federação Brasileira de Naturismo tinha nas acusações falsas de pedofilia que causaram a prisão do então presidente da FBrN, Dr. André Herdy. Sobre a "panelinha", uma breve olhada na estrutura da FBrN mostra que a multiplicação de "diretorias" é limitada somente pelo número de parentes e amigos dos manda-chuvas que querem hospedagem grátis em áreas naturistas. A Colina do Sol é um pesadelo de perseguições de quem esteja fora da panela, e privilégios para quem está dentro.

A psiquiatra Carmita Abdo da USP também compara as manifestações usando o nu, e os outros protestos recentes:

Carmita vê paralelo entre a causa de Alfredo e a onda de protestos que começou com cobrança por menores tarifas de transporte público e se tornou algo muito maior no país. "As novas gerações sempre propõem rupturas, que começam com pequenos grupos e atingem o social."

O mundo gira

Para um estrangeiro, a fascinação de Brasil com o "oficial" é em si fascinante. A obrigatoriedade do trabalhador se afiliar ao sindicato do setor (e pagar um imposto ao particulares), e da empresa pertencer ao "sindicato patronal" e também ser tungada, é coisa bizarra. A noção de que tudo mundo precisa ter um "representante oficial", e ainda pagar por isso, remete à época em que esta regras nasceram, quando fascismo emprestou suas ideias para implantar o Estado Novo e seus arquitetos para projetar as grandes construções de São Paulo.

O mundo gira. A crença em representantes "oficias" sumiu, até nos representantes eleitos, como as manifestações desta mês mostram. As vantagens organizacionais de um grupo naturista, foram largamente ultrapassadas pelo Internet e pelas redes sociais. O modelo da ditadura de Vargas, as monopólios estatais e reservas de mercado da ditadura militar, reproduzidos em tamanho "PP" nas "concessões" da Colina do Sol, são coisas do passado.

O mundo gira. O novo chega. O velho cede. Mas cedendo, esperneia.

sábado, 20 de julho de 2013

Borraram os sem-calças

A ocupação da Câmera de Vereadores de Porto Alegre por jovens protestando a tarifa de ônibus e tanto mais terminou de modo festivo, sem danos para o patrimônio público, mas com o que o repórter Felipe Bächtold da Folha de S.Paulo chamou de "mais uma inovação":

Cerca de 20 jovens que integram o Bloco de Luta Pelo Transporte Público, grupo que reúne entidades que pedem o passe livre, posaram nus dentro da Câmara Municipal para fotos que depois eles próprios postaram nas redes sociais.

O "ensaio fotográfico" foi uma comemoração do grupo, acampado no plenário da Casa desde a semana passada, pela resposta a parte de suas reivindicações.

Mesmo sem roupa, os jovens, "tímidos", cobriram o rosto. Eles se posicionaram para as fotos em frente a uma galeria de retratos de ex-integrantes da Câmara. A atitude chocou políticos do Estado.

A matéria toma a metade superior da página C8 da Folha de ontem, com o título "câmara dos PELADOS", com "PELADOS" em letras com quase 4 cm de altura. É ilustrada com duas fotos, aparentemente tiradas de Facebook, uma das quais reproduzo abaixo:

Isso não era a única foto tirada; na própria foto podemos ver mais quatro pessoas tirando fotos. Esta foto saiu na versão impresso da Folha recortada para tirar estas pessoas da margem da imagem - porém, a nudez é intocada.

Outros veículos

Enquanto a Folha fez o recorte artístico mas não censurou, vários outros veículos borraram os sem-calças. O Diário Gaúcho borrou pintos mas não seios.

Zero Hora optou por uma captura diferente da mesma cena, mas também com as "vergonhas" borradas. E de novo, seio é liberado, mas pinto não pode.

Barrado no origem

O repórter postou a imagem colhida de Facebook na página da Folha no Facebook - e foi censurado. Facebook apagou a imagem e ainda bloqueou a conta do jornalista durante 24 horas.

"Sexo grupal"

O uso do nudez em protestos (e nesta caso, em comemoração) é pouco entendido. Conforme a matéria de Bächtold:

O presidente da Câmara, Thiago Duarte (PDT), afirmou que a imagem é "deprimente" e desrespeitosa com a instituição.

"Se querem fazer sexo grupal, que vão fazer em um local privado, não em um local público", disse à Folha.

A confusão de nudez simples com sexo (e até "sexo grupal") é tipica de quem nunca foi exposto ao naturismo. Até a forma de censura, feito da ótica machista, ilustra esta confusão. Mas a confusão é somente no lado "textil"? Bächtold continua:

CAUSA LGBTT

Integrante do Bloco de Luta, Luciano Barcellos, que participou da audiência, disse que a iniciativa de bater as fotos partiu de um pequeno grupo de ativistas ligados à causa LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgêneros), que também fazem parte do movimento.

"Eles entendem que o corpo não é um problema", diz.

Barcellos --que não aparece nas fotos-- critica o que chama de "falso moralismo" e diz que o bloco tem integrantes de "todo o prisma da esquerda" e respeita cada tipo de protesto.

Quem já viu um pouco de naturismo brasileiro encontrou a jabuticaba de proibição de homens solteiros. É muito ingenuidade interpreta isso como outra coisa do que é: homofobia.

Ora, se naturismo não é sobre sexo, o que importa a preferência sexual dos naturistas? Se a pretensão não seja "sexo grupal", por que cargas d'água é preciso que homem e mulher estejam presentes em proporções iguais?

Os vereadores de Porto Alegre podem ter suas dificuldades em distinguir nudez de sexo. E se não conseguem entender o respeito pela coisa pública (não houve vandalismo) e o desrespeito pelo homem público (as fotos de cabeça para baixo) é porque não querem entender.

No naturismo brasileiro, também, o hábito é fingir não entender muito coisa: não enxergar o swingue, não enxergar a discriminação contra homossexuais, não enxergar os fraudes financeiras e imobiliárias que se escondem atrás de naturismo.

Há quem pergunta porque os jovens nos fotos enrolaram suas cabeças em panos. Prefiro perguntar porque os naturistas brasileiros enfiam suas cabeças na areia.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

In Rio to see the Pope? Visit Abricó beach!


Young people from all over the world are coming to Rio de Janeiro to see the Pope. Saturday July 27 will be the Prayer Vigil at Campus Fidei, em Guaratiba. Sunday morning the Pope will say Mass at the same location, which as he requested is in one of the poorer neighborhoods of Rio de Janeiro.

Guaratiba is poor, and far away, and lacks transportation and other public utilities for the  1.5 to two million people expected. The suggested means of reaching Campus Fidei from the closest train station is ... walk. For 13 kilometers. Monday the 29th is a holiday until noon in Rio de Janeiro: there is simply no way to insure people will be able to travel until then.

While it's winter in Rio, it's a tropical winter. Many young people, facing hours of walking, pedestrian traffic jams, or loaded trains and buses, may think, "Let's go to the beach and wait for things to untangle!" That excellent idea brings up two problems: How to find the beach? And what about a bathing suit?

Fortunately, there's a simple answer to both questions. Rio de Janeiro's nude beach, Praia de Abricó, is only 10 km from Campus Fidei. Go east along Avenida das Américas. When you get to Estrada Roberto Burle Marx, turn right, toward the sea. When you reach the Estrada do Grumari, turn left.  The road will take you to one end of Grumarí Beach. Go to the other end, and there's Abrico Beach. While the whole area should be well policed for the Pope's visit, it may be safer (and more fun) to go in a group of a dozen or two.

Peace be with you! 

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