quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

COPENHAGUE E NATURISMO


Evandro Telles de Oliveira
26/12/09
  

Foi encontrado um animal com fraturas expostas e imediatamente o levaram para uma clínica para tratamento, o que aconteceu com ele? Foi pisado, bateram com pauladas em sua cabeça e o chutaram. O pior disso tudo foram crianças na porta de uma escola. O pobre do animal pensou que tendo crianças, ali encontraria algum carinho. Ao contrário, só foi mal tratado e massacrado. As nossas crianças estão mais agressivas ou está havendo alguma falha dos pais e professores na sua educação? Perguntas que ainda estou procurando respostas.

Alguém que está lendo esse texto poderá questionar. Sim, o que tem isso a ver com os 192 representantes de diversas nações reunidos para tentar resolver sobre o clima na terra e o que tem a ver o fato acima mencionado com o naturismo?
Dentro de uma teoria chamada “quântica” todas as coisas estão interligadas, o prego que sustenta a estrutura do telhado da casa tem a mesma importância do cimento que é usado para realizar a sua base. Esse conjunto é que torna possível a sustentação do imóvel.

O naturismo tem, sim, responsabilidade também com nossos animais, provavelmente nem tanto quanto os protetores, mas precisa também ter o envolvimento com as questões ambientais. Se continuarmos nesse raciocínio, chegaremos à conclusão que a nossa maior defesa é com a VIDA.

Fico pelado porque gosto, coloco-me numa posição de igualdade entre os demais, passa não existir os preconceitos, repercute na minha integração com os demais participantes desenvolvendo amizade e solidariedade, me sinto parte da natureza que utilizo para o meu bem-estar físico e mental e procuro defendê-la para preservar a VIDA.

No Naturismo sempre citamos o “Respeito” como um dos principais objetivos a ser alcançado. Tanto é que na sua definição é citada “QUE TEM INTENÇÃO ENCORAJAR O AUTO-RESPEITO. O RESPEITO PELO PRÓXIMO E O CUIDADO COM O MEIO AMBIENTE”. Só que essa palavra é ampla, pode significar respeito para com o ser humano, com os animais, com o meio-ambiente, com os compromissos assumidos, com o horário marcado, com o dinheiro, com as opiniões contrárias, etc.
Sem considerar o problema ambiental para ser debatido, o movimento naturista perde o sentido e deixa um vazio, torna-se um movimento sem valor, o que não é o caso.

Na sua essência o Naturismo é uma filosofia que mostra que podemos viver em harmonia com a natureza, mas a cada ano que passa o ser humano a destrói colocando em risco a nossa própria sobrevivência e os detentores do poder o que fazem? Simplesmente nada porque o sistema econômico não quer perder o domínio do dinheiro.
É difícil salvar os lobos sem sacrificar as galinhas.

O texto escrito pelo Ven. Dr K Sri Dhammananda sobre atitude Budhista quanto à vida animal afirma de uma forma bem clara “A crueldade do homem em relação aos animais é uma outra expressão de sua ganância incontrolável. Hoje destruímos os animais e os privamos de seus direitos naturais para nossa conveniência. Mas já estamos começando a pagar o preço por esse ato egoísta e cruel. Nosso meio ambiente está ameaçado e se não tomarmos medidas severas para a sobrevivência de outras criaturas, nossa própria existência na terra pode não estar garantida.”

Não é surpresa para ninguém que a reunião desses representantes em nada iria contribuir. Afinal, as arrogâncias, os descasos e as agressões que causamos vêm desde cedo, lá na escola do 1º grau já se praticavam as injustiças contra os mais fracos. E como não é com a gente, calamos, ignoramos, achamos que nada temos com isso, meu caso é somente com o naturismo. Mas somos sim, todos responsáveis por delitos sociais que, apesar de nos sentirmos impotentes, também nada fazemos para mudar o quadro.

Cobramos muito e damos pouco em troca. É preciso levar ao conhecimento dos naturistas não somente a consciência da nossa nudez, mas também outros assuntos igualmente importantes. Queremos divulgar o estilo de vida dos naturistas para muitos que somente ouviram falar. Possuem a curiosidade, mas não procuram informações sobre o assunto. Do mesmo modo não podemos aceitar a nossa prepotência de acharmos que outros conhecimentos das ciências sociais em nada poderiam contribuir para com o naturismo.

O Laércio, diretor da FBrN e Presidente do Goiasnat tem nos mostrado por meio dos seus artigos, que os naturistas também se preocupam com as questões ambientais. Despertam em nós a consciência da nossa natureza e que o modelo econômico criado para nos proteger é o mesmo que poderá nos exterminar. Será que somos realmente o câncer da terra?

Sem termos uma noção exata do papel que temos que desempenhar e da dimensão que atingimos na defesa da nudez humana, ficaremos vulneráveis com os argumentos e ataques de pessoas radicais que ainda estão presas nos falsos valores sociais, mesmo com todas as informações hoje disponíveis, não se descobriram.

O Naturismo é rico, filosoficamente falando, pode ser estudado em muitas disciplinas das Ciências Sócias, tais como Psicologia, Antropologia, Psicanálise, etc. É necessário incentivar trabalhos acadêmicos e ao mesmo tempo assumir em toda a sua essência e com orgulho dizer SIM, SOU NATURISTA, DEFENDO A VIDA NA SUA PLENITUDE.. 

 Espero que no III Encontro Latino-Americano que deverá ser realizado nos dias 5, 6 e 7 de Março/2010 na Colina do Sol não venham discutir somente a evolução do naturismo como aumento do número de adeptos e sim a evolução no sentido cultural, mostrando que também somos responsáveis para descobrir o porquê da agressividade com que nossos animais são tratados. Devemos nos conscientizar também que somos, na realidade, APENAS UM, e o respeito que tanto defendemos deve ser estendido em todo nosso relacionamento social.

Evandro Telles de Oliveira
26/12/09

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Construindo a Cidadania Planetária em 2010

Por Laércio Júlio da Silva 

30/12/2009
Esperamos que 2010 seja o ano em que a cidadania planetária se constitua em um novo recomeço para a humanidade como a conhecemos atualmente. Existem vários grupos atuantes espalhados pela sociedade que pactuam das mesmas idéias convergentes: a de que o mundo só pode ser salvo através de uma nova concepção envolvendo a cultura da paz e a união entre os povos. Superando diferenças, um movimento heterogêneo está se formando com as mesmas conclusões. São entidades religiosas, filosóficas e científicas de todas as matizes comungando do princípio que homens e mulheres do Século XXI devam estar irmanados no antigo conceito de aldeia global que só agora começa a se concretizar com o advento da tecnologia presente na telefonia móvel e na internet. Quando esse conceito foi formulado não se imaginava a que ponto chegaria à derrubada das fronteiras com a comunicação. Somos hoje cidadãos do mundo ligados pela tecnologia virtual da rede de computadores e como tal devemos agir rumo ao desenvolvimento real de um novo conceito de cidadania. Cidadania que só deverá ser exercida em sua plenitude quando as camadas menos favorecidas estiverem participando técnica e conscientemente da globalização do conhecimento e de toda a sabedoria universalizada.

Sabemos hoje que cientificamente tudo que existe no universo é feito da mesma matéria química. Seja mineral, vegetal ou animal a sua totalidade é constituída de elementos presentes e comuns a todos. Interligados, sabemos também que somos parte do cosmos e o “bater das asas de uma borboleta aqui pode provocar um furação do outro lado do mundo”. Obviamente tratando-se de uma alegoria, o conceito sintetiza a importância das ações coletivas e a responsabilidade que temos sobre o chão que pisamos.

A noção de cidadania planetária surge a partir de uma concepção onde se afirma que, independente da nacionalidade, habitamos o mesmo planeta ao qual devemos cuidar e compartilharmos princípios e valores éticos próprios de uma comunidade humana que atualmente vive o desafio de contradições como é o caso da alta tecnologia convivendo com a pobreza endêmica. E a pergunta que não quer calar é: se somos capazes de chegar a Lua e construirmos computadores infinitamente potentes, porque não conseguimos resolver os problemas sociais comuns a todos os povos? A melhor resposta está na falta de uma consciência planetária. Razão racional e lógica que entenda que todas as raças são irmãs comprovadas cientificamente e que não existem diferenças a não ser as criadas pelo próprio homem.

Um ser que compartilha e que cuida. Esse é o resultado ideal da educação voltada para a cidadania planetária. Portanto,  o desvelar,  a  ética  e  o cuidado com o meio ambiente se  apresentam  como norteadoras destes novos  rumos, das  transformações profundas que necessáriamente operarão os caminhos da espécie humana.

Devemos estar conscientes de que a edificação de uma sociedade mais justa depende da transformação individual de cada ser humano, transformação esta comprometida com o amor, a inteligência e a solidariedade direcionadas para a construção de uma sociedade livre, igualitária, fraterna, buscando proteger a vida planetária e construindo uma organização social transformadora e digna, reconhecendo que minha família é a humanidade e que estamos igualmente irmanado com todos os seres viventes.

O ano de 2010 pode ser o início de um novo paradigma para a humanidade. Desejamos a todos e a todas uma nova e profunda reflexão, sendo o ano vindouro repleto de idéias e ações por um mundo melhor que sabemos ser possível.

“Haverá lugar para os pecadores desesperados que vêm para ferir a humanidade pelas suas próprias crenças? Um só amor! Um só coração! Vamos seguir juntos para ficarmos bem...” (One Love – Bob Marley).

Um feliz 2010 ecologicamente sustentável para todos!


Laércio Júlio da Silva é diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo, o Goiasnat.

sábado, 26 de dezembro de 2009

A Copenhague que queríamos


Por Laércio Júlio da Silva

26/12/2009
A Conferência sobre o Clima realizada em Copenhague terminou com a certeza de que os países ricos querem impor aos países em desenvolvimento uma série de obrigações que eles mesmos não tiveram durante séculos de exploração desenfreada da natureza e seus recursos. Durante toda a sua história os países ricos, objetivando custear o seu desenvolvimento, destruíram impiedosamente sua fauna e sua flora e, não satisfeitos com isso, o capitalismo criou sua fase superior, a exploração imperialista para saquear outros países através do colonialismo e da prática velada do neo colonialismo. Agora querem impor ao resto do mundo um modelo cerceador que na prática emperra o desenvolvimento e só ajuda na perpetuação do domínio das nações ricas sobre as pobres. As medições científicas sugerem que o hemisfério norte e principalmente os Estados Unidos são responsáveis pelo modo de produção e consumo mais poluidor do planeta. Para o chefe da diplomacia argentina, Jorge Taiana, representante de seu país em Copenhague, os países desenvolvidos mostraram “mais uma vez sua pouca disposição em cumprir o que já estava estabelecido na Convenção sobre Mudança Climática e no Protocolo de Kioto, quando são os responsáveis históricos de 75% das emissões de gases do efeito estufa”. São as economias industrializadas que deveriam ser obrigados a fazer os maiores esforços e facilitar o financiamento para a mitigação dos efeitos do aquecimento global e a adaptação para tecnologias limpas e renováveis, ajudando assim os países em desenvolvimento a não errarem como eles, ao invéz de tentar impor uma agenda aos países pobres.

O Presidente dos EUA, Barak Obama, cinicamente expressou, sem meias palavras, a síntese do fracasso da Conferência. Disse arrogantemente: “A América já apresentou seu compromisso (...). Já decidiu o seu rumo. Esperamos que os outros também façam a sua parte”. E completou dizendo que os EUA aceitam participar do “sacrifício” de reduzir a poluição e ajudar os pobres desde que esse prejuízo seja globalmente socializado e especialmente distribuído entre os emergentes (Brasil, China, Índia, etc.) e não apenas auferido aos ricos “sujões”. Prisioneiro do poderoso “lobby” das grandes corporações americanas, foi incapaz de se contrapor a pressão de empresas, principalmente à de combustíveis fósseis, que viram seus interesses ameaçados por um acordo que atrapalharia os lucros.

Na nossa participação, se por um lado, Lula deu um “pito” geral nos países ricos, destacando a oportunidade que todos estavam deixando passar de efetivamente fazerem alguma coisa real pela redução do aquecimento global, por outro lado deixou escapar a oportunidade de assumir uma posição de liderança mundial com uma proposta unificada em vez das famosas “cabeçadas” entre ministros na ocasião que expuseram ao mundo divergências internos no governo.

Aos olhos do mundo dois fatos ficaram provados: a de que  resultado da conferência não foi o ideal, salientando a péssima organização que credenciou três vezes mais participantes causando tumulto e manifestações violentas felizmente não ocorridas na Conferência do Rio em 92, muito melhor organizada.

O outro fato notório foi à pressão da opinião publicada representada pelas ONGs que cada vez mais valoriza gestores que efetivamente praticam e defendem uma postura mais concreta em relação à redução de emissões de gazes. Pressão que pode tirar ou dar votos, e os governos democráticos se curva a essa evidência.

O sucesso seria se saíssemos de Copenhague com um novo protocolo de metas para redução dos países desenvolvidos, outras metas de redução para alguns países emergentes como o Brasil, a China e a Índia, e que esse novo protocolo excluísse dessas obrigações os países mais pobres que deveriam ser ajudados por um pacote financeiro com o objetivo de enfrentar as conseqüências do aquecimento global.

Lamentavelmente isso não aconteceu, e resoluções importantes foram proteladas para 2010. O relógio da vida não espera e o mundo aguarda posições urgentemente mais claras.

Laércio Júlio da Silva é diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo, o Goiasnat.

sábado, 19 de dezembro de 2009

O direito dos animais

Por Laércio Júlio da Silva

19/12/2009

Um dos maiores problemas do sistema democrático brasileiro é a influência do chamado “lobby” corporativo que muitas vezes subverte o princípio do governo pelo povo e para o povo. A força do “lobby” sobre os políticos faz com que importantes questões sejam tratadas sob a ótica de uma minoria interessada na aprovação de leis que favoreçam um ou outro segmento da sociedade em detrimento da maioria da população. Para alcançar seus objetivos, essas forças organizadas utilizam desde a simples manifestação até a corrupção e favorecimentos ilícitos para a aprovação de leis que alcancem seus objetivos pessoais afastados do interesse da maioria do nosso povo.

Muitas vezes o político brasileiro cede a determinado segmento da sociedade por interesses meramente eleitorais, financiamento de campanha e outros motivos que enchem de vergonha a política como é tratada nesse País. O resultado disso é a infinidade de “brechas” contestadas em processos que se arrastam na justiça pela total discrepância entre decretos aprovados e leis que não “colam” formando um quebra-cabeça que nunca há de ser devidamente montado.

Fiz todo esse prólogo para que o leitor possa entender a seu modo o Projeto de Lei nº. 4.548 de 1998, que pretende modificar o art. 32 da Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), tramitando no Congresso Nacional com o objetivo de retirar a expressão “domésticos ou domesticados”, sob o argumento de que a realização de rodeios e vaquejadas tem sido prejudicada. Diz o texto que justifica a alteração da lei: “os rodeios atraem milhares e milhares de pessoas e já se constituem em verdadeira indústria de diversões. Estimulam, outrossim, todo um universo de produtos e serviços atrelados às práticas esportivas e são internacionalmente conhecidos. As festas de Barretos em São Paulo, de Uberaba em Minas, de Livramento no Rio Grande do Sul dentre outros exemplos de mega eventos e as dezenas de milhares de pequenas festas de fim de semana que geram emprego e renda em todo o território nacional, não podem ser ameaçadas”.

A atual redação da Lei de Crimes Ambientais diz:

“Art. 32. Praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:

Pena – detenção de três meses a um ano, e multa.

§ 1º. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

§ 2º. A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.”

Se este projeto for aprovado, abrirá caminho para as mais variadas interpretações jurídicas e será consumado o maior retrocesso da história da proteção animal em nosso País. Por exemplo, o combate às condenáveis rinhas de galo e cães, além da cruel Farra do Boi, seria dificultado ao extremo sob outro entendimento da Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais) que poderia assim ser contestada.

Os defensores dos animais têm o direito garantido pela constituição de se manifestarem contra essa tentativa que pretende, na prática, liberar no Brasil os maus tratos aos animais domésticos e domesticados.

Está na internet um abaixo-assinado virtual: http://www.petitiononline.com/9605x32/petition.html que subscreve contra a alteração do artigo 32 da lei 9605/98, defendendo que seja mantido em sua íntegra o texto atual que tipifica como crime o ato de maus tratos a animais domésticos e domesticados, o qual já vigora há 11 anos e está em plena coerência com as normas basilares ambientais expressas em nossa Constituição Federal em seu artigo 225, § 1º, VII, o qual veda práticas cruéis contra animais não humanos.

Muitos animais nesse momento estão submetidos a condições de extrema crueldade motivadas pela interferência do homem na Terra. O caso mais famoso divulgado pela mídia é a situação dos ursos polares que com o degelo perdem sua moradia e as queimadas que acontecem todos os dias no Brasil. Animais domésticos são diariamente abandonados por seus donos que não percebem a diferença entre uma coisa inanimada e um ser vivo que precisa de cuidados especiais. Na semana em que se realiza a Conferência de Genebra sobre as alterações no clima, há de se lembrar o direito ao habitat natural dos animais que compartilham o planeta com a raça humana.

O indiano Mahatma Gandhi, humilde militante da paz, que fez uma revolução através da política de não violência, marcou a visão de mundo dizendo: “Tudo que vive é o teu próximo”.

Laércio Júlio da Silva diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo – Goiasnat

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"Naturismo é um modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática da nudez social, que tem por intenção encorajar o auto respeito, o respeito pelo próximo e o cuidado com o meio ambiente"

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A urgente pauta de Copenhague


Por Laércio Júlio da Silva


11/12/2009
Sou de um tempo que considerava quem se preocupasse com ecologia ou meio ambiente um sonhador ou no mínimo alguém que não tinha muito que fazer. Até meados dos anos 80, o movimento ambientalista não era levado a sério e havia todo o tipo de chacota e desprestígio tanto da esquerda como da direita no âmbito político. A direita até hoje defende o discurso que os ambientalistas são contra o desenvolvimento e por sua vez parte da esquerda ortodoxa achava tudo isso perda de tempo que se resolveria com o advento do novo homem sob o regime socialista... Lamentavelmente, os fatos não se mostraram assim.

Como todo o “calo” só pode ser sentido quando dói, as mudanças climáticas estão aí no nosso dia-a-dia, provando as consequências da intervenção do homem na mãe Terra.

Mesmo assim existem forças poderosas tentando desmoralizar os estudos recentes sobre o assunto: nos últimos dias, uma polêmica agitou o meio científico internacional. As pesquisas que comprovam o aquecimento global foram colocadas sob suspeita coincidentemente às vésperas da Conferência mais importante dos últimos tempos. A enorme repercussão dada propositalmente ao assunto pelas maiores agências de notícia internacionais atingiu supostamente cientistas que teriam fraudado pesquisas para reforçar a tese de que o planeta está esquentando.

Polêmicas a parte, desde o dia 7 de dezembro, 192 países estão em Copenhague para discutir o futuro do planeta: se efetivamente estão todos dispostos a agir evitando que as mudanças climáticas sejam catastróficas ou somente fazer "jogo de cena", voltando para casa convencidos que fizeram algo sério, e o que é pior, passando ao resto do mundo a falsa sensação de que foram tomadas providências reais.

Parte do que a grande imprensa internacional não publica com o mesmo destaque, além dos tais e-mails trocados entre cientistas, que foi divulgado recentemente pelas Nações Unidas em um relatório dramático que bate a porta da Conferência de Copenhage:

– As emissões de dióxido de carbono relativas a 2008 já superam em 40% as emissões dos anos 90. A este ritmo, dentro de 20 anos a temperatura média do planeta poderá aumentar mais de 2°C com uma probabilidade de chegar a 25%, atingindo assim o limiar de não retorno, a partir do qual se considera que o ciclo de produção de dióxido de carbono perderá a capacidade de se reciclar,

– A evolução da temperatura média dos últimos 25 anos reforça a tese do aquecimento provocado pelas atividades humanas. O aumento médio de 0,19°C por década confirma os atuais modelos teóricos de avaliação que explicam os efeitos causados pelos gases de efeito de estufa. Apesar de uma diminuição da parcela do aquecimento global causada pelo Sol – a nossa estrela passou por um mínimo do seu ciclo de 11 anos – a tendência do aquecimento médio manteve-se,

– As atuais redes de satélites de observação do clima mostram inequivocamente que as calotas do Ártico diminuem a um ritmo mais acelerado do que o previsto, a área que desapareceu nos últimos três anos superou em 40% a área prevista. Como já foi diversas vezes constatado o Ártico é muito mais sensível às alterações do clima do que o Antártico por causa da extensão da sua placa terrestre e da massa oceânica que rodeia o Polo Sul,

 – As observações de satélite mostram também que o nível do mar subiu em média cerca de 3,4 mm por ano, ou seja 80% acima do valor previsto pelo PIAC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) das Nações Unidas, sendo este valor consistente com a contribuição causada pelo degelo acelerado dos polos. O aumento do nível do mar em 2100 poderá atingir um metro acima do valor inicialmente previsto pelo PIAC, que era cerca de 2 metros no cenário mais pessimista,

– O ano de emissão máxima de gases de efeito de estufa deverá ocorrer muito em breve, entre 2015 e 2020, se quisermos realmente limitar o aumento médio da temperatura do planeta a 2°C. Para estabilizar a temperatura do planeta será obrigatório estabelecer um modelo de sociedade pouco dependente das emissões de gases de efeito de estufa no final do século XXI, reduzindo em cerca de 80 a 90% as emissões per capita das nações mais desenvolvidas correspondentes ao ano 2000 (fonte: "O diagnóstico de Copenhage” -  PIAC da ONU).

A humanidade espera bom senso dos governos envolvidos, principalmente os países do hemisfério norte responsáveis pela maioria do estrago. Isso não isenta o Brasil e o cidadão comum de fazer a sua parte por um mundo melhor. Os olhos da humanidade estão voltados para Copenhage na Dinamarca. E o nosso deve estar voltado para nossa família e o futuro dos que herdarão a Terra.


Laércio Júlio da Silva é diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo, o Goiasnat.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Você sofre de “normose”?


Por Laércio Júlio da Silva
03/12/2009
A patologia da normose pode ser definida como o conjunto de costumes, normas predeterminadas, conceitos padronizados, valores objetivos e subjetivos empíricos, estereótipos predefinidos, hábitos de pensar ou agir que são aprovados por consenso ou pela maioria em uma determinada sociedade e que provocam a massificação de determinados modos de raciocínio, causando muitas vezes sofrimento, doença e morte. Há pensadores contemporâneos que dizem que o poder castrador de nossa sociedade não é mais de ordem sexual, como defendia Freud, mas sim espiritual, e seu nome é normose - a síndrome da normalidade.

A normose significa assistir a guerras, violências, escândalos políticos como corrupção e desvios de recursos de uma maneira normal, aceitando-os como se fossem fatores oriundos da hipocrisia humana sem que ao menos haja a chance da busca de uma solução aparente. Embora reivindicações por mudanças sejam constantes, ficamos somente no discurso impelidos por uma mídia que valoriza o rápido e o digerível, sem tempo para o raciocínio lógico que preconiza a ação. Formamos assim uma maioria muitas vezes calada e acomodada. Ao invés de curar o mal lutando efetivamente por uma sociedade mais justa, somos tentados a simplesmente desviar do problema e a passar a cuidar somente do nosso próprio umbigo. Algumas vezes os naturistas são taxados de maníacos, diferentes, exóticos, evoluídos e toda a sorte de adjetivos para conceituar uma atitude anormal e fora dos padrões definidos pela “sociedade têxtil”.

Um amigo uma vez me confidenciou que não iria a um local naturista por considerar-se um ser primitivo, incapaz de chegar à iluminação dos que praticavam o naturismo. O pensamento dele se baseia na tese de que os naturistas são seres muito evoluídos em relação aos padrões “normais”!

Existe na maioria da população uma crença bastante enraizada, segundo a qual tudo o que a maioria das pessoas pensa, sente, acredita ou faz deve ser considerado como normal e, por conseguinte, servir de guia para o comportamento de tudo ao seu redor.

O fato de estar nu significa um grande prazer para algumas pessoas, no entanto valores provocados pela normose impedem a felicidade de muitos que gostariam de ser naturistas. Esses indivíduos invejam o modo despojado com que os naturistas se relacionam com o mundo a sua volta e lutam dia-a-dia contra preconceitos encerrados em seu íntimo. Ao travarem contato com o naturismo, as pessoas se convencem que a maior barreira está nelas mesmas e tentam vencer a sua própria normose.

É interessante notar como o conceito de beleza corporal pode ser banalizado pela sociedade dita normal. O fato recente de uma estudante em trajes expondo parte do seu corpo fez com que uma multidão de estudantes a seguisse pelo campus. Pode-se observar pela TV que as pessoas iam atrás de algo sem sentido, com a normalidade típica de bois indo para o matadouro. O “anormal” seria se ela estivesse ao natural e completamente nua: a expulsão não seria revogada, ela seria matéria jornalística no mundo todo que noticiaria imagens com uma ridícula tarja na genitália. Com certeza as pessoas não a seguiriam por tratar-se de uma pessoa que evidentemente foge à normalidade!

No entanto o fetiche da sexualidade estava exatamente na pouca roupa ou no muito que poderia ser mostrado. No meio naturista costuma-se dizer que uma mulher com “fio dental” ou um homem com a sunga apertada torna-se muito mais sexualmente apelativo do que a nudez que não encerra qualquer mistério! Quem se “normaliza” acaba adoecendo com bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de enquadramento. Portanto, deixe o normal de lado e seja original: o naturismo ajuda as pessoas a sair da mesmice e a se autoconhecerem em sua plenitude.

Laércio Júlio da Silva é diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo, o Goiasnat.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

TIRAR A ROUPA NÃO É NATURAL

Sabe, povo, andei pensando um pouco mais sobre essa história de naturismo, de ficar pelado, de tirar a roupa. É claro que sou peladista convicta, mas andei descobrindo mais umas coisinhas sobre o assunto.

Bem, tirar a roupa, é tirar algo que está fora de si, é algo que está na superfície, logo os olhos vêem. É como se descascássemos uma laranja, como se pelássemos um ovo cozido, é como se raspássemos a cabeça. Legal essa visão, né??? Pois bem, ao fazermos isso o que vemos é algo pelado, algo sem roupa, sem casca. Uma superfície lisa, um corpo sem cobertura, sua superfície. Sua parte externa. É fácil então não encontrar sentido para a coisa. Porque a vestimenta está tão introjetada nos seres humanos, por causa da cultura, tão internalizado que é como se fosse natural estar vestido. É como se estar sem roupa não fosse natural. Ou seja, é como se fosse natural usar roupa e não o contrário. Então, tirar a roupa é como se fosse antinatural. E o que não é um processo natural, além de ser mais difícil dá abertura para que o orgulho e a vaidade entrem em cena e ocupem cada vez mais espaço para defender o indivíduo de possíveis ameaças. É como se ao estar realizando uma ação não natural, os mecanismos de defesa agissem para defender a criatura de ameaças. Aí o orgulho, a vaidade, ou objetivos tortos entram em cena para amparar o cidadão que se sente “vazio”, “desprotegido”, “ameaçado”.

Filosófico né??? Continuo com meu raciocínio.

Se tirar a roupa é um processo antinatural, o corpo precisa se defender. Logo, os naturistas inconscientes dessa inversão motivada pela cultura, ficam buscando justificativas para tirar a roupa; e não preenchendo o vazio criado, colocam o sexo em primeiro plano, associando a nudez ao sexo, já que culturalmente fomos ensinados que só se tira a roupa para práticas sexuais. Aprendemos que se tira a roupa para seduzir, para ter prazer no momento dedicado à realização do sexo, para excitar o parceiro ou a parceira e revelar seus desejos sexuais, enfim.

Caro indivíduo que tira a roupa, você já pensou por esse ângulo? Já pensou que você, usar roupa é natural, e tirar a roupa é antinatural? É como o processo de “falar” e “ler-compreender”. A “fala” é algo particular, que vem do interior para o exterior do indivíduo um processo natural (sei que você pensou em outras coisas que vem do interior para o exterior!!!!); já “ler-compreender” é algo do exterior para o interior. É um processo não natural e por isso exige certas habilidades. Exige mais do indivíduo, assim como tirar a roupa.

E, para mim, essa coisa de tirar a roupa, gera tanta confusão, tanta polêmica, inventa-se tanta história, criam-se tantas palhaçadas porque as criaturas que o fazem pensam culturalmente, ou seja, pensam que tirar a roupa não é natural. Se pensassem naturalmente, como alguns poucos naturistas e peladistas que conheço, a coisa seria menos dolorosa e causaria menos confusão.

Então, convido aos chamados naturistas a, por uns poucos segundos, deixar de pensar como naturistas, e olhar a coisa por esse ângulo de visão que estou apontando.

E até o próximo churrasco!!!