sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A Parabola do Semeador

Ao ver o comentário citando a Bíblia de "tacar pérolas ao porcos", um amigo falou-me sobre o provérbio Zen da "Ponte de Joshu"  e o texto da Rev. Shundo Aoyama Roshi que segue mais abaixo. O provérbio diz que  "pela ponte passam pessoas boas como Budas, como também ladrões, assassinos, gente perversa e louca. A todos permite atravessar, sem pedir nada em troca, sem selecionar. Nela passa burro, passa cavalo" e também porcos.

Este blog é uma "ponte" para trocar informações, para mostrar a outra margem do rio, porém cada um decide o que fazer, se atravessa a ponte e usa as informação e a transforma em conhecimento ou ignora por completo. "Talvez sejam muitos os que não saibam que há uma Outra Margem", assim devemos  mostrar que há uma outra margem, uma outra possibilidade. Como é dito no Kalama Sutta "após a sua própria análise, acredite apenas no que você experimentar e reconhecer como correto, no que for bom para você e para todos os outros seres.

Lembro de um debate interessante, numa lista de discussão, em que um amigo disse:

“Trago um conhecimento que me parece muito valioso, mas sujeito à polêmica, pois aparentemente contraria os princípios que regem o debate virtual.
 
Encontra-se este ensinamento num livro de Suleyman Raphael (pseudônimo de um grupo de estudos sobre os ensinamentos do sábio caucasiano Gurdjieff, em São Paulo). 
 
Às vezes, quando leio pérolas de sabedoria veiculadas nesta lista, me bate a dúvida de que talvez seja realmente inócuo e até mesmo nocivo discutir a frio sobre idéias esotéricas que condensam grande quantidade de sabedoria em palavras simples e enigmáticas. E estes ensinamentos falam sobre isso.
 
Como dizem... quem tem ouvidos para ouvir, que ouça, mas mesmo assim, podemos discutir. O conteúdo é polêmico, pois contraria (pelo menos aparentemente) inclusive a sua própria difusão. Portanto peço: quem tiver algo a dizer, por gentileza, diga, mesmo que os preceitos recomendem o contrário. Afinal, estamos na Era de Aquário. Enfim, aí vai:
 
 
O Homem de Atenção pauta sua vida pelos Quatro Preceitos da Esfinge:
 
saber
ousar
querer
silenciar
 
e sabe ousar, sabe querer e sabe silenciar;
ousa saber, ousa querer e ousa silenciar;
quer saber, quer ousar e quer silenciar;
e silencia sobre seu saber, sobre os objetivos de sua audácia e sobre sua vontade. 
 
Cada leitor desse blog tem uma experiência, uma informação, uma vivência a trocar. O ensino da Esfinge é muito sábio, e difícil... Vamos discutir qual é nosso momento? Que Tempo é esse?. Acho que  é o Tempo de trocar informação. O  tempo se torna cada vez mais dialético, e dentro deste grande balanço, já se delineiam os contornos na qual todos são iluminados e na qual a mentira não cola.

Por que esse temor sobre os fatos, mesmo negativos, que acontecem? Por que chamam isso de “semear a discórdia”? O Naturista não vive num mundo de conto de fadas, não é uma “poliana deslumbrada”. O que aprendemos com o Naturismo e podemos passar aos outros? No que uma vivência naturista pode ser útil? O que se vive nos encontros naturistas é "mera brincadeira inútil" ou existe algo de verdadeiro... uma verdade humana?  Não aprendemos na vivencia naturista algo útil e importante? A verdade não é simbolizada nas artes pela nudez? Se não tememos a nudez por que tememos a verdade?

Mas é claro que se não vivenciarmos, eles ficam "incompreensíveis e tornam-se, para olhos leigos, assustadoras, ou ridículas, ou banais" e é exatamente aí que devemos Ousar em ser ridículo e enfrentar.







Do livro "Utsukushi Hitoni¹, da Rev. Shundo Aoyama Roshi,
Abadessa do Mosteiro Aichi Senmon Nisodo (Nagoya - Japão)



Certa vez, folheando os anais dos monges Zen da dinastia T'ang, ao ler o provérbio "Ajudar burros a atravessar, ajudar cavalos a atravessar", fiquei muito surpresa pela semelhança do provérbio com meu trabalho. Devo ser como uma ponte, possibilitando a todos atravessar. No grupo que dirijo, existem pessoas em diferentes estágios de prática e, mesmo monges, são pessoas comuns, com momentos de delusão. Estas palavras surgiram quando ainda tinha muitas dificuldades na função, e elas passaram a ser um preceito para mim.
Anos mais tarde, quando soube que o Imperador Showa escolhera a palavra "ponte" para o tema de poesias de Ano Novo, na festa do Palácio Imperial, lembrei-me do provérbio. Não fui convidada para a festa, mas escrevi um poema sobre o tema, incorporando o provérbio.

Ajudar burros a atravessar
Ajudar cavalos a atravessar:
Gostaria de ser esta ponte,
Entretanto, estou sendo ajudada a atravessar.

Durante a dinastia T'ang, na China, o grande mestre Zen Joshu Jushiro Zenji era abade do templo Kannon-in. Para chegar ao seu templo era necessário cruzar uma ponte, que foi chamada de Ponte de Joshu. Certa vez um monge noviço perguntou: "A Ponte Joshu, o que é?" Ele não estava mencionando a ponte para se chegar ao templo, mas sobre a prática budista de Joshu. Joshu respondeu: "Passa burro, passa cavalo."
Há pessoas das quais gostamos e pessoas das quais não gostamos, amigos e inimigos, Pela ponte passam pessoas boas como Budas, como também ladrões, assassinos, gente perversa e louca. A todos permite atravessar, sem pedir nada em troca, sem selecionar. Há quem reclame "que ponte ruim, que ponte mal feita, difícil de passar", vão reclamando, batendo os pés, dando chutes, e pode haver até aqueles que urinem na ponte. Poucos atravessam com gratidão dizendo "Obrigada" ou "Graças a você pude atravessar". Seja qual for a maneira que atravessem, a todos a ponte permite passar sem fazer discriminação. Joshu em sua prática de grande bodisatva ‚ o símbolo dessa ponte, a imagem dessa ponte.
E eu? Cavalo atravessa... Burro nao... Pessoa que gosto sim, pessoa que não gosto não. Fico escolhendo, selecionando de acordo com minhas conveniências. Quero que me elogiem "Que ponte bonita!", "Obrigada", "Graças a você". Fico mal humorada e não quero deixar atravessar aqueles que me xingam ou urinam na ponte.
No meu trabalho encontro sempre monjas, noviças, praticantes leigos e tenho de lembrar-me sempre do provérbio "Ajudar burros a atravessar/ Ajudar cavalos a atravessar", como se estivesse inúmeras vezes invocando o nome de Buda. Certo dia ocorreu-me que ser uma ponte não era suficiente... Mesmo que poucas pessoas utilizem o Ponte do Budismo, preciso fazer com que as pessoas deludidas percebam a Outra Margem, e que é necessário atravessar esta ponte.
Talvez sejam muitos os que não saibam que há uma Outra Margem. É preciso despertar neles o desejo de alcançá-la.- se querem fama, dar-lhes fama; se querem pão, dar-lhes pão; se querem dinheiro, dar-lhes dinheiro; se querem relacionamento, dar-lhes relacionamento, até perceberem que este é um universo maravilhoso. Para isso é preciso ter o coração de avós bondosos, ser capaz de despir o hábito monástico, sujar as mãos com excrementos, estar entre todos, chorar, ficar deludido, rir juntos, até fazê-los perceber o Verdadeiro Caminho e puxá-los para cá.
Esse é o meu voto simbolizado pelas trinta e três faces e cem corpos de Kanon. Está escrito no Sutra de Kanon: "Nas terras do universo nao há local onde não se manifeste." Sempre e em toda parte, a atividade de Kannon se revela. Abrindo o olho do coração-mente, vejo que a pessoa da qual penso não gostar existe para que eu perceba meu próprio ego - é Kanon se revelando. Doente, fracassada ou separada de quem amo devo abandonar minhas auto-indulgências e perceber que a verdade da vida é atividade de Buda.
Vendo tudo pela perspectiva de Buda fiquei envergonhada da minha própria arrogância e pude perceber que ao invés de ser uma ponte, estou sendo ajudada a atravessar.

¹ "Utsukushii hito ni" = para as pessoas belas

 
Não acredite na fé das tradições, por maiores que sejam seus méritos e honras através do tempo e do espaço. Não acredite na fé dos sábios do passado. Não acredite no que você imagina ter vindo de alguma divindade. Não acredite em qualquer coisa que venha da autoridade de mestres e sacerdotes. Após a sua própria análise, acredite apenas no que você experimentar e reconhecer como correto, no que for bom para você e para todos os outros seres.
(Kalama Sutta)


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