segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A gênese do Rio Araguaia

16/08/2009
Por Laércio Júlio da Silva

A vida na época em que “todo o dia era dia de índio”, e que essa terra em que você pisa chamava-se Pindorama (Paraíso, em tupi), os carajás já habitavam as margens do Rio Araguaia. Vale lembrar que para o índio o rio é tudo relacionado à sobrevivência, dele se produz e se extrai o alimento, o uso para a navegação, a cultura e a vida intimamente que se faz ligada às águas. Não foi a toa que o esperto Anhanguera dominou os índios ao pegar fogo em uma em uma garrafa de pinga, aterrorizando os antigos habitantes com a possibilidade de incendiar o leito do seu precioso e querido rio.

Reza uma lenda dos índios carajás que um dia o Criador resolveu fazer nascerem homens e mulheres em sua plenitude. Do alto de sua sabedoria criou o Rio Araguaia para que vivessem felizes dentro dele como peixe abundantemente saciado pelas suas riquezas naturais, garantindo-lhes sempre a imortalidade de suas almas. Como ao modelar os homens o Criador investiu-os de curiosidade, os habitantes daquelas águas se perguntavam por que haviam sempre buracos carregados de luz, de grande intensidade. E era o preceito do Criador: “Vocês não podem entrar nesse buraco, senão perderão a imortalidade”. E eles circundavam aquele buraco e se deixavam iluminar com as suas cores de intenso clarão, respeitando as palavras sagradas, apesar de imbuídos de grande tentação.

Mas como vocês já devem ter imaginado, um dia desses um carajá curioso se meteu buraco adentro, caindo em praias maravilhosas e ficou encantado. Viu os animais, sentiu a luz do sol e presenciou paisagens paradisíacas em flores e frutos. Depois de horas contemplando o jardim ele se lembrou dos irmãos e voltou pelo mesmo buraco. Reuniu os outros e disse descrevendo o Rio Araguaia: “Vi uma coisa extraordinariamente linda! Vocês não podem imaginar!”, e contou a aventura. E todo mundo queria passar pelo buraco. Então os sábios disseram: “Mas o Criador é tão bondoso conosco, nos deu a imortalidade! Vamos consultar o Criador.”. E eles foram: “Pai, deixa-nos passar pelo buraco, é tão extraordinária aquela realidade que o nosso irmão afoito nos contou”, e o Criador, com certa tristeza, disse: “Realmente, é uma experiência esplêndida... Mas, vocês ao me desobedecerem pagarão um preço: perderão a imortalidade e passarão a viver do sustento dado pelas margens do rio!” Todos se entreolharam e apesar do aviso, inebriados pela riqueza do Rio Araguaia decidiram passar pelo buraco e renunciar à imortalidade. Então, o Criador alertou: “Vocês terão experiências de beleza e de grandiosidade, mas tudo será efêmero. Assim tudo que existe no mundo irá nascer, crescer, morrer e será cuidado por vocês e o rio deverá ser preservado. E todos concordaram com as condições.

E foi assim que ali passaram a viver pelados e felizes os índios carajás. O Rio Araguaia é um dos rios mais lindos da América do Sul, nasce a mil metros de latitude, na Serra dos Caiapós, e desce do sul para o norte, literalmente fazendo a divisa de Mato Grosso com Goiás, desaguando no Rio Tocantins.

Lamentavelmente, como tudo nesse mundo, o Rio Araguaia tem sofrido a ingerência maléfica do ser humano. Dragas para a exploração mineral no leito do rio têm aberto buracos que não são os de luz intensa, como na lenda dos caiapós, mas altamente poluidores e desfiguradores da beleza de um rio que é o berço de uma civilização que esta sendo destruída pela propalada “emancipação”dos povos indígenas.

As condições não estão sendo obedecidas: não estamos cuidando do legado de beleza e equilíbrio do Rio Araguaia como foi-nos oferecido pelo Criador.

O naturismo brasileiro conceitua a cultura indígena como exemplo de respeito a natureza, sociedade que ainda hoje pratica a nudez social e considera o interior das pessoas em uma visão espiritualista de integração ao meio ambiente.

A Associação Goiana de Naturismo, o Goiasnat se solidariza com todos os ambientalistas e representantes da sociedade civil na luta pela defesa do Rio Araguaia.

Laércio Júlio da Silva é diretor da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) e presidente da Associação Goiana de Naturismo – Goiasnat

www.goiasnat.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

O texto tenta parodiar a história do jardim do Éden, porém de uma forma não muito adequada, pois reflete a compreensão de que a nudez está ligada ao pecado, quando na realidade a nudez edenica, pura e inocente antecedeu ao pecado. O naturismo não está ligado a uma postura anticristã, muito pelo contrário, é no cristianismo que o naturismo consegue verdadeiramente conciliar a moral com a nudez.