quarta-feira, 19 de junho de 2013

Luz del Fuego, saindo dos acervos


Luz em casa na Avenida Niemayer
A mãe de naturismo brasileiro, Luz del Fuego, foi uma figura de controvérsia na vida, que deixa obstáculos para traça seu legado depois da sua morte, violenta e prematura.
Felizmente, a digitalização de arquivos de jornais anda facilitando quem quer saber mais de Luz del Fuego. Ilustramos esta matéria com fotos do extinto jornal carioca Última Hora, agora no Arquivo Publico do Estado de São Paulo. As edições do jornal que correspondem às fotografias ainda não está digitalizadas.  O Estado de São Paulo, que já foi um grande jornal, anunciou ano passado um plano de digitalizar seu acervo, que foi recentemente concluído, um acesso livre para todos até dia 20 desta mês.

O jornal O Estado de S. Paulo noticia a participação da Luz na peça "Fruto da Eva", mas ela aparece muito menos viva do que depois da sua morte, especialmente na primeira década deste século, ou quando um filme foi lançado em 1982. Veja o gráfico dos resultados da pesquisa "Luz del Fuego":

FILTRE POR PERÍODO De 1875 a 2010 ( 109 )
  • 1870
  • 1880
  • 1890
  • 1900
  • 1910
  • 1920
  • 1930
  • 1940
  • 1950
  • 1960
  • 1970
  • 1980
  • 1990
  • 2000
  • 2010
As barras no gráfico exibem a quantidade de ocorrências do termo procurado em cada período.
Clique sobre uma das barras para exibir resultados do respectivo período.

O jornal tem ainda um sumário da "personalidade" Luz del Fuego, com um texto muito semelhante o de Wikipedia, e links para seis páginas do jornal

Viva, notamos em 20/06/1959, na página 6 da edição nacional:

Luz del Fuego ameaçada de perder a Ilha

Rio, 19 ("Estado" - Pelo telefone) -- O sr. Fernando Sehwah, delegado de Costumes e Diversões do Rio de Janeiro, solicitou informações da União acerca dos fins a que se destina a Ilha do Sol, cuja concessão foi dada à atriz Luz Del Fuego. O delegado pretende averiguar se o Clube Naturalista Brasileiro foi autorizado a funcional naquele local.
Enquanto eu procurava ver instância da censura impedindo Luz del Fuego, encontrei Luz del Fuego impedindo o censo. Em 22/09/1960, na página 8, O Estado informou:

Luz del Fuego impediu o censo na Ilha do Sol

Rio 21 ("Estado") Dora Vivaqua, conhecida pelo nome artístico de "Luz del Fuego", proibiu o desembarque dos recenseadores em sua ilha, a Ilha do Sol, devido à negativa daqueles funcionários em cumprir os regulamentos da colonia de nudismo ali existente, isto é, desembarcar sem roupa.
Assim, apesar da intervenção dos jornalistas, que fizerem ver a artista, que sua atitude era ilegal, "Luz Del Fuego" e os membros de sua colonia deixaram de responder aos quesitos do censo.
Seguiu em 12/10/1960, página 7:

Recenseamento na Ilha do Sol

RIO, 11, ("Estado") -- Um agente do Recenseamento pôde ontem finalmente cumprir o seu dever na Ilha do Sol, reduto de "naturalistas", que têm à frente a antiga vedeta Luz Del Fuego. Apenas três pessoas foram ali recenseadas pelo agente, que trajava um calção.
Mais tarde, Luz Del Fuego disse que, se houvesse maior numero de "naturalistas" na ilha, o censor teria que trabalhar inteiramente despido.

A morte de Luz

Photo sem data de Jean Mazon
Nas edições de Última Hora disponibilizadas pelo Arquivo do Estado, a morte de Luz del Fuego está na edição vespertino de 01/08/1967 na página 9 do primeiro caderno, com a título indo de um lado para outro da folha:

Preso confirmou a morte de Luz

Preso ontem pela polícia fluminense, o homicida e foragido da Justiça Alfredo Teixeira Dias, irmão de Mozart "Gaguinho", o principal suspeito de ter assassinado Luz del Fuego e seu caseiro Edgar, revelou que houve realmente o duplo homicídio e que tanto êle quando seu irmão ajudaram a fazer submergir, perto da Ilha do Sol, os dois cadáveres. Afirmou entretanto que os crimes foram praticados pelo amante de Luz, Hélio Luís dos Santos.

Na continuação do texto, a matéria revela rivalidades entre os dois lados da baia de Guanabara. Num lado ficava o estado de Guanabara, antigo Distrito Federal, e noutro o estado de Rio de Janeiro, com seu capital em Niterói. Chegou ao ponto de que quando a lancha com jornalistas de um lado esguichou, o outro não socorreu: foram regatados por pescadores.

No texto do Última Hora, os irmãos Alfredo e Mozart jogam culpa no amante de Luz, uma versão que não foi acolhida pela Justiça nem pela História.

Nascimento da lenda

A gráfica de citações de O Estado ilustra a renascimento da lenda de Luz del Fuego. Pontos importantes foram o lançamento do filme "Luz del Fuego" em 1982, que não ganhou uma resenha no O Estado: somente registros de horários de cinema, um dos quais notou a entrada reduzida para menores de 10 anos.

Uma década depois, em 11 de dezembro de 1992, O Estado trouxe sob o título "Os escândalos de Dora Vivaqua" uma crítica de Alberto Guznik, da peça "Luz del Fuego", passando no Teatro Imprensa. O jornal continuava:

Quase ninguém sage quen é Dora, mas quase todos se lembram de Luz del Fuego, como ficou famosa pelas suas aventuras, nudismo e cobras. A vida de Dora está em cena.

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